sexta-feira, 6 de maio de 2011

Igualdade

Ontem, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, decidiu reconhecer os direitos dos casais homossexuais: partilha de bens, adoção, herança, pensão em caso de separação ou morte do(a) cônjuge, por entender, como eu tenho defendido, que os homossexuais são cidadãos brasileiros antes de tudo, e que, como qualquer outro, devem ter assegurado o direito à união civil. Agora sim, demos um passinho à frente. Eles ainda sofrerão muito, como sofrem quaisquer minorias, com o ódio e o preconceito, e, muitas vezes, pela omissão do Estado em prestar-lhes socorro.

Muita coisa precisa ser feita ainda. A exclusão social não se restringe a orientação sexual, etnia, nacionalidade, gênero. O caso mais violento de exclusão deste país é o que se faz por meio do sistema educacional. Porque é uma exclusão cultivada por políticas de Estado, e suas vítimas não tem, muitas vezes, a verdadeira noção do que acontece. O Brasil tem cerca de 60% da sua população composta por analfabetos funcionais, pessoas que até aprenderam o alfabeto, mas são incapazes ou tem grandes dificuldade de se expressarem por escrito ou de lerem e compreenderem um parágrafo deste tamanho, por exemplo.

Ulysses Guimarães, com a Constituição de 1988 recém promulgada nas mãos, discursando para o Congresso Nacional, disse que "a cidadania começa pelo alfabeto". Muitos dos parlamentares presentes ali ainda estão lá, ou estiveram por muitos anos ainda; embora o discurso tenha sido verdadeiro e contundente, seus aplausos foram cínicos e demagógicos. Sob o pretexto de alfabetizar uma massa de 25% da população de então, formalmente analfabeta, eles depauperaram o sistema educacional, planificando métodos e conteúdos, construindo escolas sem professores ou quaisquer condições de abrigar uma sala de aulas moderna (mandam computadores para escolas com instalação elétrica incapaz de suportá-los), arroxando os salarios dos professores e aumentando a sua carga de trabalho, de maneira que os docentes são reféns do sistema, além de serem responsabilizados por grande parte da sociedade, que sente os danos, mas que enxerga somente o veículo e não o seu condutor.

Manter uma população deste tamanho incapaz de ler e se informar é o seguro de vida de políticos de carreira, que fazem a vida explorando a miséria, cultivando as necessidade do povo para, de quando em quando, aparecerem prometendo resolver isso, ou oferecendo melhorias imediatas, remendos, usando seu poder político, para posarem de super herois. O político existe pela necessidade, então a necessidade deve ser preservada. A única maneira de reverter isso é ensinando as pessoas a se defenderem desses facínoras, exigindo seus direitos e exercendo seus deveres. Mas elas são mantidas na ignorância, para que possam ser exploradas perpetuamente.

Esse é, talvez, o problema de mais difícil solução no Brasil, porque ele não será resolvido de cima para baixo nunca, pois Garotinhos da vida são os favoritos do povo e sempre estarão dando as cartas. E nem de baixo para cima, porque é aqui que a merda está feita. A mídia não está nem aí, como sempre, transmitindo apenas aquilo que faz parte da sua agenda ou atendendo aos interesses econômicos, sob a sigla de "IBOPE". Ações individuais são tomadas por educadores, pais, até setores da imprensa, e mesmo por quem nunca estudou mas encontrou na educação autodidata um sentido para a vida. Mas vejo que isso apenas salva umas poucas crianças da imensa maré de obscurantismo que avança sobre tantas outras.
 
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