sexta-feira, 20 de março de 2015

De bike por aí - experiências, críticas, etc. com o Bike Rio e as ciclovias da cidades

Sou um homem obeso de 36 anos que passou 3/4 da vida sustentando uma massa corporal de três dígitos. Alguém imaginaria meu sofrimento em subir escadas ou caminhadas longas. Não é o caso, sempre trabalhei minha resistência ao esforço prolongado (mais do que em exercícios anaeróbicos), caminhando sem limite para parar. Isso nunca diminuiu meu peso, mas pelo menos me ajudou a estabilizá-lo na faixa de 105-110 kg nos últimos 20 anos sem que eu mexesse na minha dieta de gordo. E me tornou muito resistente.

Bike Rio e a estrutura que a cidade oferece

No começo deste ano resolvi andar de bicicleta, em parte por ter um cartão de crédito, em parte por ter perdido a linha no fim do ano. Me cadastrei no sistema Bike Rio e comecei a mandar brasa. O sistema impõe um limite de no máximo 60 minutos a cada viagem, de maneira que as minhas metas de tempos e distâncias, e de ir daqui pra lá, precisam estar dentro desse limite.

O sistema inclui uma rede contínua de estações na Zona Sul, no Centro e na Grande Tijuca. Ainda possui uma outra rede separada desta, entre Barra da Tijuca e Recreio, e, isoladas, uma estação na Rocinha e 4 no Parque de Madureira. As rotas precisam levar a disponibilidade de estações no caminho em consideração.

Onde eu moro não é coberto pelo sistema. São mais de 3,5 km de distância até a estação mais próxima. Mas como trabalho na Zona Sul, tem sempre uma estação por perto. Por isso, eu circulo principalmente entre Jardim Botânico, Lagoa, Leblon, Ipanema, e no eixo de Botafogo entre o Jardim e a Praia de Botafogo. Outra região que eu costumo pedalar é na Grande Tijuca, entre Tijuca, Praça da Bandeira, Maracanã e Vila Isabel. Uma ou outra vez eu fui da Zona Sul ao Centro, mas já é uma viagem longa que exige um intervalo 15 minutos para a troca de bicicletas no meio do caminho. E tem sempre o risco de você não encontrar uma bicicleta livre e ficar por ali mesmo.

A Zona Sul é fácil. As ciclovias são abundantes, e quando não são, as calçadas são geralmente largas e relativamente bem conservadas. No Centro as ciclovias começam a desaparecer. O corredor mais seguro para ir do Centro para a Grande Tijuca é atravessando a Lapa, a Cruz Vermelha, o Catumbi e o Estácio, mas não existe ciclovia, e mal existe calçada nessa rota, de maneira que o ciclista precisa seguir o fluxo do trânsito grande parte do tempo. Durante a semana, no horário de início de noite, além do tráfego pesado de carros e ônibus, é muito perigoso nessa região, e quem anda de Bike Rio tem pelo menos um celular a ser roubado. Isso me impede de ir do trabalho até o mais próximo possível de casa de bicicleta. A Grande Tijuca também carece de ciclovias, mas o trânsito é mais contornável e mais seguro.

Por conta do trânsito, eu acabei percebendo que é possível cortar caminho de bicicleta e encurtar o tempo que seria gasto com ônibus para ir de ponto A a ponto B. Encurtar significativamente. Num trecho aqui na Zona Sul, no fim de tarde, o ônibus demora cerca de 50 minutos para chegar no túnel Rebouças. De bicicleta, eu chego na cara do Rebouças em 15. Então eu passei a usar essas bicicleta não tanto para lazer e exercício, mas para poupar tempo.

As dificuldades

Circular pela cidade tem seus contratempos. São muitos carros, sinais de trânsito, outras bicicletas, e pessoas que é preciso respeitar. É preciso estar atento o tempo inteiro. Inclusive com a bicicleta. Como a bicicleta não é "sua", cada uma que você pega tem um comportamento diferente em que você precisa se adaptar, frequentemente com algum defeito. Essas bicicletas são muito pesadas e muito duras, embora a constituição delas não seja robusta como uma Barraforte. São vários os problemas mais frequentes, e a maioria deles não é óbvia na hora de pegar uma bike. Eles são:

-Pneu baixo, careca, ou terminantemente arrebentados com as câmaras vazias puxadas para fora;
-Freio fraco ou estourado;
-Câmbio. Acho que é a parte mais problemática. Muito comum a segunda marcha não encaixar, e a terceira deixar a correia pulando, fazendo o pedal girar em falso. Nos casos mais críticos, a correia escapa nessa situação;
-Espelhos arrancados - não que eles sejam muito úteis de qualquer maneira;
-Bancos que não sustentam o seu peso e abaixam de repente, ou não ficam devidamente travados de giram enquanto você pedala;
-O guidão é feito de um alumínio muito fino que se quebra com frequência assustadora (duas vezes comigo, outras tantas pelo que eu já vi em bikes estacionadas por aí);

Isso tudo, aliado com espaços inadequados em boa parte da área coberta pelo Bike Rio atrasa bastante as coisas. Seria interessante se a prefeitura, que é parceira do Itaú neste projeto, também abrisse espaço para outros serviços similares. A concorrência seria salutar. E é imperativo expandir o sistema de ciclovias, mas não como fizeram na região de Campo Grande - pintando calçadas já existentes de vermelho, deixando postes, árvores e tudo mais no meio do caminho. O uso de faixas estreitas no canto das ruas no Centro e na Tijuca tiveram pouco impacto no trânsito no local, e são alternativas mais viáveis para regiões completamente ocupadas e populosas, como o Grande Méier ou a parte da Zona Norte "do lado de lá" da linha do trem, que é praticamente impossível de se conectarem por bicicleta com o resto da cidade por falta de espaços para isso.

O Bike Rio, em tese, tem caminhonetes circulando pela cidade com técnicos, e reboques para levar bicicletas defeituosas, ou transportar bicicletas de uma estação cheia para outras mais vazias. Mas esse serviço não é imediato, e é possível que certas estações fiquem vazias por vários dias, ou com bicicletas quebradas presas a elas.

De grão em grão a gente perde um quilograma

De qualquer maneira, eu fiz uma contabilidade do meu desempenho, desde o dia 12 de janeiro último, quando comecei, até hoje, a tarde do dia 20 de março. Desconsiderei nessas contas trajetos muito curtos (com menos de 2 km, facilmente transponíveis a pé), o que mascararia os resultados finais com dados pontualmente insignificantes (aumentaria muito a quantidade de dias pedalados, de percursos e velocidade média, diminuiria muito a distância média por percurso, sem que isso demonstre algum ganho de tempo e saúde pela atividade).

Do dia 12/01 até agora, a tarde do dia 20/03, foram efetivamente 34 dias pedalando em 47 percursos (ou trechos, por exemplo, ao pedalar um trecho, depois pegar um ônibus, e mais tarde pedalar outro trecho. Ou pedalar de manhã, e depois à tarde no mesmo dia).

Neste período eu percorri 312,2 km, a uma velocidade média de 10,97 km/h. Os percursos tiveram distância média de 6,47 km, e o mais longo deles, 12,7 km (vencidos em 65 minutos). Atingi o meu 300º quilômetro ontem, na Praça da Bandeira.

A maior velocidade média alcançada foram dois picos de 15,6 km/h em trajetos de 3,7 km, em ciclovia plana. O segundo trajeto mais longo de todos, de 12 km, perfiz a 14,4 km/h, também em ciclovia plana.

Não houve melhora significativa na velocidade média dos percursos ao longo do tempo (eu fiz um gráfico pra ver). O que houve foi uma melhora significativa na minha condição física ao final dos exercícios. Meus sistemas cardiorrespiratório e o vascular estão funcionando macios, macios, e as pernas não tremem mais.

Mas não graças aos guidões de latinha de refrigerante :P

segunda-feira, 9 de março de 2015

Bike Rio - alerta aos usuários


O ano começou muito diferente para mim. Pela primeira vez na vida eu tenho cartão de crédito e faço transações eletrônicas (eu era um usuário de papel moeda convicto, e ainda não confio totalmente em dinheiro invisível). Isso me permitiu usufruir do serviço Bike Rio, sistema integrado de aluguel de bicicletas disponibilizado em parceria do banco Itaú com a prefeitura do Rio que cobre, de maneira meio desconexa, Zona Sul, Centro e Grande Tijuca (a rede funciona de maneira mais coesa nessa região, embora as ciclovias não cheguem na maior parte da Grande Tijuca), Rocinha (uma única estação cuja utilidade prática eu ainda hei de encontrar), Barra, Recreio, e Madureira (4 estações isoladas dentro do Parque de Madureira). Uso o serviço quase diariamente, e desde 12 de janeiro já percorri quase 250 km pela cidade. Em outra ocasião eu escreverei amenidades sobre isso.

O motivo de eu estar escrevendo sobre isso hoje é que eu sofri um acidente e acho que vale a pena deixar aqui como alerta aos demais usuários sobre a segurança do equipamento.

De manhã eu cheguei de ônibus em Vila Isabel, e peguei uma bike na estação 192 da Praça Barão de Drumond. Pretendia ir com ela até a Praça da Bandeira, evitando assim um trânsito e um caminho desnecessariamente convoluto do ônibus que eu pegaria para chegar ao trabalho, e com isso economizaria cerca de 15 minutos de viagem. Quando cheguei ao cruzamento da Av. Manuel de Abreu com a Rua Felipe Camarão, uma espécie de pontezinha que passa sobre o canal que segue pelo meio da avenida, eu me desloquei para fora da avenida e fiquei esperando o sinal da Felipe Camarão fechar para atravessar. Quando fechou, eu me apoiei sobre o guidão para acelerar. De repente, todo o meu peso foi para frente e para baixo, e eu rolei pelo chão no meio da rua.

O guidão havia se partido completa- mente. Estou colocando uma foto aí ao lado para mostrar como ficou. O guidão é um tubo de alumínio oco e bem fino que se rompe sem avisar. Ele não amassa, não racha, simplesmente quebra sob stress, e stress neste caso significa inclinar seu corpo para frente sobre ele. Não foi a primeira vez que isso me aconteceu; outro dia, ao atravessar um sinal na Delfim Moreira, no Leblon, o guidão se rompeu, mas de uma forma em que eu ainda consegui "encaixar" as duas partes e, com o cuidado de uma mãe, levá-la até uma estação próxima.

Me levantei, bati umas fotos, e levei a bike até a estação mais próxima dali, a 199 (Praça Niterói). Quando cheguei lá, a ironia: alguém havia sofrido o mesmo tipo de acidente de deixado a bike naquela estação com o guidão partido. A foto aí mostra as duas juntas.

A minha sorte, em ambos os casos, hoje e quando aconteceu no Leblon, foi ter atravessado com o sinal fechado, e não estar seguindo o fluxo, senão seria atropelamento na certa. E mais, sorte do meu corpo não ter caído sobre o cano partido de alumínio, sobre o qual estava apoiado no momento da quebra, senão eu seria rasgado pelo metal. Apesar do perigo e da pastelança da queda, não tenho nenhum roxinho decente pra contar história. De qualquer forma, registrei o ocorrido ao Bike Rio por telefone, e estou divulgando em todas as minhas redes para ver que providências serão tomadas. Aos usuários, o alerta.
 
eXTReMe Tracker