terça-feira, 4 de novembro de 2014

No caminho da não violência encontrei uma pizza

Tenho pensado nas últimas semanas que a compaixão é uma das vigas de sustentação da não violência. E que a compaixão, para ela ser totalmente incorporada, natural e espontânea, ela precisa se estender a esferas cada vez mais abrangentes: aos familiares, aos amigos, aos conhecidos, às pessoas com quem você simpatiza, às pessoas com quem você tem algum tipo de empatia ou compartilha passivamente seu espaço, as pessoas com quem você não simpatiza, seus adversários, e aquelas que querem lhe fazer mal, inconsciente ou conscientemente. Fora dessas esferas, há ainda que se considerar os animais, dos que temos como estimação, dos que nos alimentamos, dos que nos são indiferentes, dos que nutrimos antipatia ou asco, e dos que nos são nocivos.

Por conta disso, há anos eu tenho praticado conscientemente o perdão para todas as afrontas, e controlado a violência em pensamento todas as vezes que eu testemunho uma injustiça. Tenho falhado miseravelmente todos os dias, mas cada vez menos. Isso é em relação às pessoas. Mas também, há várias semanas eu deixei de matar insetos domésticos, como formigas, moscas e baratas, e até pernilongos e borrachudos, mesmo que estivessem me picando. É algo que eu também estou exercitando conscientemente até que se torne natural.

Eu cheguei a considerar que, nessa jornada pela não violência, eu acabaria desembocando numa mudança de hábitos alimentares, quando a compaixão pelos animais tornasse moralmente impossível a ingestão de carne e outros subprodutos obtidos da morte destes ou do seu não consentimento (como laticínios e ovos).

Só que aí eu estaria partindo do princípio de que as plantas - a outra fonte de alimentação de que dispomos - não sentem ou não tem alma, ou coisa que valha. Isso é altamente discutível. Plantas não sentem dor por não terem sistema nervoso, mas mesmo sem sistema nervoso elas processam estímulos do ambiente e acionam mecanismos internos para reagir positivamente a eles (e não caoticamente, como se esperaria de um organismo desprovido de consciência física), incluindo reagir à predação, como qualquer animal, inclusive os que não processam a dor no seu cérebro. Sem falar da ingestão de brotos e sementes, que são embriões de plantas que nunca tiveram uma chance. Além disso, o que fazer com as frutas, cujas sementes dependem de alguém que as coma para se dispersarem e seguirem com o seu propósito? Isso tudo me colocaria numa sinuca, porque estendendo a compaixão aos vegetais - coisa que, isso sim, já está totalmente incorporado em mim! - eu, mantendo meus critérios, deixaria de comê-los. O que, no fim, seria uma má ideia.

Creio que a moderação, uma alimentação mais natural possível (que escape à carne processada e aos animais torturados com hormônios), que inclua somente o que o corpo precisa, sem excessos e extravagâncias, pode ser um objetivo alcançável. Eu já tenho um "pacto" com as árvores frutíferas, de recolher delas somente o que eu vou comer, e deixar para trás o resto para que sirvam de alimento a outros animais. É algo muito difícil (e MUITO CARO) de se fazer numa cidade como o Rio de Janeiro, mas é uma meta possível.

Gostaria de ouvir sugestões e experiências de quem optou pelo vegetarianismo, de quem tentou mas voltou atrás, e de quem optou por seguir o caminho da não violência, mas não sentiu a necessidade de mexer na alimentação mais do que a saúde exige.
 
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