sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Verao

Eu chego no trabalho as 8:00, antes do sol esquentar, e fico enclausurado num edificio climatizado a algo entre 18-22oC. Eh como viver em outra dimensao. A sala onde trabalho tem um janelao por onde eu vejo pessoas entrando em colapso por causa do calor (uma colega minha chegou aqui banhada em suor, pois na Tijuca, aqui do lado, estava batendo 39oC por volta das 10:00), enquanto eu procuro alguma maneira de manter as pontas dos dedos aquecidas na falta de um casaco. Acho ate que eu deveria trazer um casaco para deixar aqui e vestir quando atravessar a fronteira entre as duas realidades. Absolutamente surreal.

Muitas empresas aqui no Rio tem decidido liberar seus executivos da obrigatoriedade do paleto durante o verao, ou, pelo menos, nos dias mais quentes. About fucking time. Nao sei como isso se da nas capitais do Nordeste, por exemplo, mas creio que o bom senso deve predominar sobre a formalidade, sempre. Anteontem estava tao quente no final da tarde que eu ate cheguei a pensar em parar em qualquer praia por onde o onibus passasse, se eu nao tivesse que correr para casa. Onde, alias, falta agua ha 3 dias.

Nao gosto do verao carioca. Eh violento. Quem nao vive aqui nao acredita. A latitude proxima ao tropico de Capricornio engana.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Catástrofes ambientais.

Há quase 1 ano, em fevereiro de 2010, ocorreu um terremoto no Chile, perto da cidade de Concepción. Foi um dos terremotos mais violentos (o sétimo maior) já registrados na história. Atingiu em cheio a cidade de Concepción, com uma força de 8,8 na Escala Richter, durante quase 3 minutos, com reflexos entre 6,5 e 5 pontos na mesma escala durante a hora seguinte. Foi sentido em locais tão distantes do epicentro, no fundo do mar junto à costa chilena, quanto Buenos Aires, Ilhas Malvinas e Fortaleza. Seu impacto foi o suficiente para retardar a rotação da Terra em pouco mais de 1 milissegundo, e o eixo de rotação do planeta foi deslocado em 8 cm. A cidade de Concepción saiu do lugar, deslocando-se em bloco cerca de 3 metros para o oeste.

Toda essa catástrofe gerou perdas materiais em torno de 2 milhões de estruturas urbanas perdidas, entre casas, prédios, e demais construções. O número de vítimas fatais chegou a algo entre 520 (segundo órgãos do governo chileno) a 795 pessoas (segundo a então presidente Bachelet, citada pela Agência Reuters).

Segundo os últimos dados da Defesa Civil, alguns dias de chuva foram suficientes para matar, até o momento, 765 pessoas em 4 municípios da Região Serrana do Rio de Janeiro. Esses dados são específicos para esta região, e não está contando com o que tem acontecido durante este período em São Paulo, Sul de Minas e Espírito Santo.

Temos duas tragédias causadas por forças da natureza, ocorridas na mesma época em países próximos em termos de desenvolvimento e acesso a tecnologias, com números de vítimas fatais semelhantes. Num deles, foi um sismo que liberou uma potência equivalente a milhares de bombas atômicas, enquanto no outro, foi um dia de chuva particularmente intensa, porém esperada para a época do ano.

ONDE ESTÁ O ERRO?

Terremotos são tão comuns no Chile quanto as chuvas são no Sudeste do Brasil. Com a diferença que um terremoto irá derrubar qualquer estrutura que não tenha sido construída para ser chacoalhada durante um tremor de terra, enquanto a chuva, por natureza, cai no chão e é absorvida pela terra ou levada para os rios por córregos temporários cavados nos morros ao longo do tempo. Entre um aguaceiro e um terremoto, qual vc escolheria? Foi o que eu pensei.

No Chile, aparentemente, as pessoas são mais inteligentes, e demandam de seus políticos e da sua classe empresarial medidas para previnir tragédias durante os terremotos. Desta forma, em qualquer buraco do lado de lá dos Andes, é possível encontrar pelo menos alguns edifícios construídos com tecnologia para absorver impactos advindos de movimentos do solo para, se não foi possível continuarem de pé, pelo menos não desmoronarem sobre a cabeça das pessoas. Além disso, campanhas governamentais na área de educação, e um suporte da mídia, faz com que o cidadão chileno comum tenha conhecimento de certas atitudes a serem tomadas em momentos de crise para salvarem as suas vidas. De modo que, enquanto um terremoto de "apenas" 7 pontos na escala Richter matou, imediatamente, 100 mil pessoas no Haiti (com mais 200 mil adicionados a esse número nos dias que se seguiram, por soterramento, ferimentos, doenças, desidratação, etc.), um tremor como o do ano passado devastou o país mas não chegou a ceifar mil vidas.

No Brasil, onde os prédios desmoronam sozinhos porque foram construídos com areia e os seus responsáveis morrem de velhice antes de irem para a cadeia ou pagarem as devidas indenizações, não tem muitos problemas com tremores de terra. Eles ocorrem casualmente em regiões onde fendas no subsolo deixadas por antigos lenções freáticos ou bolhas deixadas pelo magma derramado há muito tempo se assentam com o peso da crosta acima. Não são muito potentes, portanto, é compreensível que, no Brasil, não haja grande preocupação com esse tipo de fenômeno, embora grandes arranhacéus sejam atualmente erguidos com sistemas de amortecimento que permitem algum grau de torção da estrutura.

No entanto, qualquer macaco sabe que, entre novembro e abril, a região sudeste é acometida por chuvas pesadas e repetitivas, num regime quase diário. Também, caso vc não esteja em estado vegetativo desde o nascimento, todos sabem que o relevo desta região é acidentado, marcado por duas cordilheiras paralelas (Serra do Mar e Serra da Mantiqueira), bordejadas por planícies inundáveis (as Baixadas). E todos sabem que se trata de região mais densamente ocupada do país. E, mesmo assim, permite-se que as pessoas ocupem as encostas de morros (com casas, ou atividades rurais), bases de afloramentos rochosos com pedras rolantes, beiras de córregos de drenagem. Quem cede a permissão para a construção nesses locais são as prefeituras, com anuência de seus secretários de meio ambiente, urbanismo, defesa civil, vereadores e outros que não me ocorrem agora. Porque é legal e bonito permitir que as pessoas ocupem um pedaço de terra, e elas ficam muitos agradecidas e não se esquecem de seus benfeitores. Se elas não morrerem num desmoronamento, elas votarão neles nas próximas eleições. Eles sabem disso.

Não se trata apenas de exploração das necessidade alheias, que é o default da política no Brasil. Nas cidades afetadas pela chuva, havia muitos condomínios de classe média e alta em situações semelhantes às das favelas que foram, igualmente, atingidas. São empreiteiros recebendo favores em troca de apoio aos seus candidatos, com concessões que violam qualquer critério de avaliação responsável, elevam o preço da terra que receberam quase de graça (porque antes era terra "inútil") e atraem compradores com suas belas paisagens, segurança, tranquilidade, e clima agradável. Minha chefe me mostrou uma foto publicada na Revista Época desta semana do condomínio onde ela possuía uma casa. O lugar não existe mais. Muitos dos que estavam ali morreram, e nem sei se já foram contabilizados, pois continuam debaixo dos 3 ou 4 metros de lama que se acumulou no vale abaixo.

O que deveria ser feito? Supondo que trocamos de lugar com o Chile, que medidas de prevenção seriam tomadas?

-Primeiro: a desocupação imediata de encostas de morros, com realocação dessas pessoas mediante a construção de conjuntos habitacionais em locais planos ou de baixo risco e apropriação de edifícios abandonados ou inacabados. No extremo da falta de moradias, adotar um aluguel social temporário que lhes permita ter para onde ir antes de encontrar um local definitivo.

-Segundo: a recuperação da vegetação nas encostas antes ocupadas, bem como matas ciliares, leito de rios que drenam pequenas bacias hidrográficas. A recuperação dos rios nas áreas de risco previnem o deslocamento do solo e o depósito de sedimentos que faz com que o seu nível suba rapidamente no caso de chuva nas cabeceiras ou abaixo dos seus cursos. E a recuperação da mata previne (não completamente, mas de maneira significativa) os deslizamentos de terra, mantida pela ação das raízes, que também contribuem na absorção da água.

-Terceiro: multas por violações das leis ambientais precisam ser aplicadas com rigor, e, em caso de reincidência, prisão e confisco de propriedade, pois torna-se claro que o indivíduo, através do uso que ele dá à terra que lhe pertence, é uma ameaça à vida de outras pessoas e essa ameaça precisa ser neutralizada por quem tem a competência. (Não lembro de ter lido alguma lei que seja tão rígida quanto eu acho que deve ser, então, talvez, na atualidade seja o único detalhe que não possa ser prontamente aplicado).

A remoção de pessoas e expropriações são medidas extremamente impopulares. Não importa que sejam para evitar tragédias, as pessoas acham ruim ter que abandonar seus lares. Ninguém acha que vai acontecer alguma coisa, jamais. Então, para não perder votos, nenhum político com este poder toma qualquer atitude. Ao invés de remover parte de uma favela em risco de vir abaixo ou de uma comunidade no pé de um morro careca, eles vão mandar asfaltar uma rua por ali ou ceder tinta pra pintar os barracos. Ao invés de multar construtoras por violações do código ambiental, eles vão comprar um terreno no condomínio irregular por um preço camarada. Porque fazer o que DEVE ser feito, vai lhe custar popularidade, votos, e o poder de que desfrutam em seus currais eleitorais.

Até os gringos do jornal Le Monde percebem que a negligência das autoridades brasileiras constitui um crime. Todos eles estão banhados em sangue, e, neste momento, estão procurando meios de se tornarem salvadores daqueles que ainda não morreram, para perpetuarem-se onde estão.

Essa é a diferença entre o Chile e o Brasil.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Cacique Cobra Coral

Muito bem. Choveu, e mais de 500 pessoas morreram na Região Serrana do Rio de Janeiro. Todo ano é a mesma coisa, pessoas morando em áreas de risco, que não apenas não são relocadas para lugares seguros, como são incentivadas, através de loteamentos irregulares garantidos por políticos locais para a compra "branca" de votos e criação de vínculos com empreiteiros, a viverem nesses locais, que, de outra maneira, não seriam ocupados. Aí chove, os morros descem, os rios sobem, e todo mundo morre. O mais idiota dos fluminenses é capaz de prever que isso vai acontecer todo começo de ano.

Mas, enfim, ninguém identifica os responsáveis por isso, então a coisa vai continuar a acontecer até que não sobre mais ninguém vivo - além deles.

Mas não é sobre isso que eu quero falar.

Ouvi esta manhã que uma prefeitura e o governo do estado firmaram um convênio com a Fundação Cacique Cobra Coral. Se você não ouviu falar sobre essa fundação, trata-se de um grupo que se diz esotérico orientado por um espírito (o tal cacique), que se destina a prever e evitar o acontecimento de catástrofes climáticas. Não se surpreenda ainda! Pois essa fundação tem vínculo com a prefeitura do Rio há vários anos e há várias gestões, chegando até a ser contratada para evitar a chuva durante um reveillon há poucos anos. E se você pensa que é uma excentricidade do Rio de Janeiro, dê uma olhada nos convênios assinados pelos governos municipais e estaduais de outros lugares do Brasil na própria página deles: http://www.fccc.org.br/convenios.asp

A assinatura deste convênio (que, se foi com a prefeitura carioca, trata-se apenas de uma renovação) expõe três problemas muito graves:

1°: Num momento de crise, onde é preciso avaliar com critérios técnicos os riscos para as pessoas assentadas, isoladas, das equipes trabalhando nos resgates, que inclui os riscos de desabamento, desmoronamento, e do retorno de frentes frias, pancadas de chuva, desvios de cursos de rios, etc., etc., onde a objetividade do conhecimento científico se faz MAIS IMPORTANTE DO QUE NUNCA, os governantes resolvem recorrer ao espírito que um dia já foi Galileu Galilei.

2°: Uma vez mais, o dinheiro público, que saiu do meu bolso, está sendo direcionado ao bolso de uma organização esotérica para executar alguma função pública, que, no caso, é controlar as forças da natureza. O Estado que se pretende laico não pode favorecer esta ou aquela crença religiosa em detrimento das outras, e daqueles que são contra ela. Eu não tenho nada contra o Cacique Cobra Coral. Poderia ser, igualmente, um convênio do estado com a bispa Sônia, com o Papa Bento XVI, com a Fundação Shambala, com o Profeta Gentileza. O CRIME CONTRA O CIDADÃO seria o mesmo.

3°: Admitamos que o Cacique Cobra Coral seja capaz de, pelo método que for, prever, e até evitar as chuvas. POR QUE ELE NÃO FEZ ISSO ANTES? Se este é o caso, olha só o caráter da entidade com quem nossos governantes estão se envolvendo (nunca se esqueça, com dinheiro público), que funciona só quando desconta o cheque no banco.

A tragédia do Brasil não é só o número de mortos e desabrigados. Consegue ser ainda pior.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pew pew pew

Nesta manhã, traficantes da Mangueira fugiram para a Quinta da Boa Vista e esconderam-se no Jardim Zoologico. Do palacio da Quinta ouviu-se tiroteio, e ha relatos de um policial baleado. As radios estao noticiando, mas os sites de noticias estao muito ocupados com as chuvas. A diretoria do Museu Nacional mandou os funcionarios para casa.

Entao tchau.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Geleia de acerola, FTW

Depois do meu quarto, a cozinha é o meu lugar favorito na casa. Eu sou capaz de morar num lugar que tenha um quarto e uma cozinha (um banheiro, lógico). Sala e demais lugares para um social são supérfluos :^P

Nesse fim de semana inventei uma geleia de acerola, aproveitando que o meu pé de acerola que está carregado pela segunda vez nessa temporada primavera-verão. Não adianta colocar a receita aqui, porque foi tudo feito no olhômetro, mas se você já fez uma geleia de qualquer coisa na vida, fica mais fácil.

Separe a polpa das sementes. Se as acerolas tiverem acabado de ser colhidas do pé, elas deverão estar bem firmes, e com uma faca você faz isso facilmente. Se estiverem molengas, talvez seja preciso espreme-las. O importante é ter a polpa sem as sementes. As cascas podem ficar.

Coloque numa panela e misture o açúcar para soltar água, depois leve ao fogo baixo. Lembre-se de que a acerola pura é azedíssima, então seja generoso com o açúcar. Cozinhe mexendo lentamente. Para uma consistência melhor, com o que vc estiver usando para mexer, vá macerando sem pressa nem força os pedaços da fruta. O ponto ideal é quando os pedaços estiverem bem moles e com a cor mais ou menos uniforme, um pouco antes de chegar ao ponto de fio. Adicione quantidade de gelatina sem sabor na metade da proporção que você usaria para o volume equivalente de água para fazer gelatina. Dissolva a gelatina e leve para a geladeira. Ela fica bonita e consistente, se quiser coloque num vidro baixo de boca larga, como dessas geleias caras de supermercado e tire onda.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Romanes eunt domus

O verão carioca é inclemente. Deveria existir um sistema alternativo de trabalho que possibilitasse ou a redução da jornada durante os meses mais quentes do ano, ou a supressão da sexta-feira. Dormi apenas duas horas esta noite e a monotonia do trabalho, somado ao laboratório vazio de sexta (funcionários públicos deram o seu jeitinho de fazer o que eu propus) está me dando um sono da porra, e eu faria qualquer coisa para dormir mais um pouco.

Devo esse sono atrasado ao livro que eu comprei, O Império dos Dragões, de Valerio Massimo Manfredi. O autor é um historiador e arqueólogo por formação, mas há alguns anos tem se dedicado a escrever romances com temas históricos. Dele eu já tinha lido O Tirano, sobre a vida de Dionisio, tirano de Siracusa, colônia grega na Sicília, e que por muito pouco não conseguiu a proeza de unificar a ilha sob seu comando. Naquele livro, Manfredi é mais um historiador narrativo, se atendo a hipóteses e análises em detrimento do ritmo da história largamente reconstruída sob a forma de ficção. Em O Império dos Dragões, ele se liberta do rigor historiográfico para contar sobre como soldados romanos capturados pelo rei persa Shapur, junto com o imperador romano Valeriano, escapam ao cativeiro e se aventuram pelo mundo numa jornada quase impossível de volta para casa.

Honestamente, enquanto em O Tirano, Manfredi é mais um arqueólogo do que um romancista, nesse livro ele continua sendo um romancista mais ou menos (talvez a tradução que seja ruim), mas sem os vícios do acadêmico (embora ele tenha empregado grande pesquisa na reconstrução da época). Mas que bela história ele tem nas mãos! E é isso que me manteve acordado até as 3 da manhã.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Estimulacao russa 2, o retorno

Primeiro, estou num Mac e nao sei configurar o teclado para acentos, etc.

Ha um tempo atras, eu postei minha estupefacao perante esse tratamento estetico chamado Estimulacao Russa. Ora, eu resolvi matar a curiosidade. Definitivamente, nao eh o que eu imaginava :P

 
eXTReMe Tracker