segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Eleições 2012

Com a confirmação da eleição de Eduardo Paes, o Rio de Janeiro novamente escolhe o seu aliado de criminosos favorito. Contudo, eu me sinto feliz com o pleito, porque tomei uma posição contra o crime organizado, contra as milícias que achacam as comunidades carentes (meu bairro, inclusive), contra os usurpadores da coisa pública pelo poder econômico. Votei contra tudo que se coloca entre o cidadão e o pleno exercício dos seus direitos.

Alguém diria: "é isso aí, tem que votar contra as elites". Eu não voto contra as elites. As elites também são trabalhadoras, cariocas, e brasileiras, e, salvo exceções, obtiveram seu status legalmente (mesmo que a sua moralidade possa ser questionada, não é ilegal ser imoral). Eles são como eu e como os que pegam o mesmo ônibus que eu quando ele passa pela Rocinha, não posso me colocar contra eles. Não desejo tirar-lhes o que lhes é de direito. Ao contrário votei a favor deles também. E dos meus interesses como morador de uma comunidade com o sétimo pior IDH do município. Do contrário, estaria eu fazendo o papel de usurpador de direitos, transformando-me em tirano dos meus tiranos, e igualando-me aos que condeno.

Porque as elites sobrevivem cultivando seu status quo, é natural e histórico que isto ocorra, mesmo em sociedades pretensamente "igualitárias". Porém, enquanto as elites cultivarem o abismo social entre elas e a periferia, lutando para embarreirar obras e projetos que beneficiem as classes mais baixas e promovam a integração e a igualdade de direitos, haverá uma tensão social perigosa, porque ela pode ser estendida só até um limite. E quando ela arrebentar, choverá ferro e fogo sobre as mesmas elites. É contra isso que eu votei. É contra isso que eu voto sempre.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Come Tudo, Bebe Tudo, e Nada Chega

Minha avó me contava estórias para dormir. Não eram exatamente estórias de príncipes e princesas como se espera, mas funcionava, porque além de acalmar e fazer dormir, elas eram boas e divertidas o suficiente para querer ouvir de novo. Uma delas era uma obra prima, e ela a chamava de "Come Tudo, Bebe Tudo, E Nada Chega". Vou tentar registrá-la aqui da maneira como eu me lembro. Talvez minha avó leia isto via facebook, e se ela se lembrar de alguma coisa, pode me corrigir.

Tudo começava com um príncipe. Ele recebeu a notícia de que um rei daria sua filha em casamento a aquele que vencesse uma série de competições. Então o príncipe pôs-se a caminho. Logo ele encontrou um sujeito com grandes orelhas na beira da estrada, muito triste. "Por que está triste?" perguntou o príncipe. "Porque sou feio, tenho orelhas muito grandes". "Pois sou um príncipe, e..." "...e vai tentar se casar com a princesa", completou o outro. Acontecia que as orelhas grandes permitiam que ele ouvisse tudo, até o sussurro mais distante. Então o príncipe o convidou a ir com ele.

Depois, eles encontraram um sujeito com grandes pernas, que também estava triste, porque caçoavam das suas pernas. "Mas com um passo eu sou capaz de percorrer todo o reino", e o príncipe o convidou a ir com ele.

Em seguida, encontraram um caçador com uma espingarda, e estava triste porque caçoavam das grossas lentes do seu óculos. "Mas em compensação, sou capaz de atirar num rato a 2 quilômetros de distância". Impressionado, o príncipe o convidou a se juntar a ele.

A turma caminhou mais um pouco, e encontrou um sujeito gordo chorando na borda de um buraco. "Me chamo Come Tudo, Bebe Tudo, e Nada Chega. Estou triste porque eu sou capaz de comer uma plantação de batatas numa bocada, e ainda fico com fome, e sou capaz de beber a água de um lago com um gole, e continuo com sede". O príncipe prometeu que Come Tudo, Bebe Tudo, e Nada Chega poderia comer o que quisesse do seu próprio reino se o acompanhasse. E assim, os 5 seguiram para o torneio pela mão da princesa.

Na primeira competição, cada principe elegeria um campeão para uma prova de inteligência: o vencedor seria aquele que descobrisse em qual barril estava escondido um rato. Cada um tentou e errou, e o sujeito de grandes orelhas, ouvindo os mínimos ruídos do roedor, acertou na primeira tentativa, para espanto geral.

Na segunda competição, venceria quem completasse 10 voltas em torno do castelo a pé. Foi dada a partida, e enquanto cada campeão dava o máximo, o homem de longas pernas estava deitado, dormindo ao sol. Quando o vencedor parecia definido, faltando alguns metros, o homem se levantou, e, com um passo só, deu 10 voltas completas antes que todos.

Na terceira competição, venceria quem conseguisse acertar um coelho à maior distância. Caçadores habilidosos abatiam suas presas a 150, 200, 300 metros de distância. O caçador de óculos, então, esperou que o coelho corresse o máximo que pudesse, e, quando já estava a 10 quilômetros de distância, ele acertou um tiro que perfurou as duas orelhas, mas manteve o coelho vivo.

O rei já estava impressionado, mas ainda iria impor uma última prova para definir o noivo de sua filha: seria aquele que providenciasse o maior espetáculo de fogos de artifício. O príncipe então ficou desanimado, porque era pobre e não podia pagar pelos fogos. Então, Come Tudo, Bebe Tudo, e Nada Chega se aproximou e disse: "Deixe comigo, príncipe, pois esta noite faremos um espetáculo como nunca se viu". Então, o homenzarrão saiu e começou a comer e beber tudo que encontrou pela frente: hortas de verduras, plantações de cenouras, pomares de maçãs, comeu os animais do bosque, e até algumas árvores, bebeu toda a água dos rios com seus peixes.

Quando anoiteceu, os príncipes competidores estouravam seus fogos, cada um a sua vez. Por último, o nosso príncipe, ansioso, não sabia o que fazer e pensava em desistir, quando voltou Come Tudo, Bebe Tudo, e Nada Chega. A barriga do homem começou a fazer um estrondo surdo, e então ele arrotou e peidou tanto que nunca se ouviu tamanhas explosões, abalando muralhas e afugentando pessoas. E com esse espetáculo de flatulência, o príncipe venceu a competição e se casou com a princesa.

Aí minha avó contava que ela tinha sido convidada para o casamento, e que ela vinha trazendo uma bandeja de brigadeiros quando o ônibus freou e ela derrubou tudo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Campanha eleitoral

Há 4 anos eu já escrevia neste blog (que, na verdade, é uma migração de um antigo blog do Weblogger, que iniciei em 2001) e eu já havia comentado sobre falcatruas nas eleições para prefeito do Rio (sendo até gentil com o nosso atual prefeito e líder nas pesquisas, aqui). Sustento minha opinião, e se alguém pedir fatos, dar-lhes-ei também :^P

terça-feira, 24 de julho de 2012

Prolegômenos de pensamentos incompletos

Eu tenho uma memória prodigiosa para leitura, e geralmente me lembro (pelo menos durante algum tempo) de quase tudo que eu leio. Mas eu tenho sérios problemas para lembrar das referências bibliográficas (o autor, o título da obra e o ano de publicação, e até onde diabos eu li aquilo). Eu venho matutando nos últimos dias sobre algo que eu li por aí, não lembro onde, não lembro quando, e não lembro de quem, então desculpaê :^P

Enfim, o ser humano passa por três etapas muito distintas no seu desenvolvimento intelectual:

-A infância, quando as novidades são assimiladas e misturadas com a imaginação, criando uma concepção do mundo pouco objetiva, com fantasias tão reais quanto os fenômenos factuais observados e interpretados nessa matriz de informações incompletas e mitos. Não obstante, é a fase em que a capacidade de aprendizado, talvez, seja mais a maior em toda a vida;

-A segunda se estende da adolescência até o início da fase adulta, quando o jovem descobre, como se ele fosse o primeiro, que certos mitos da infância são falsos, ou sempre foram verdadeiros, e apenas estavam encobertos pelo véu dos mitos. É uma fase de "revelações", em que a mente, deslumbrada pelas novas descobertas, leva a crer que as verdades absolutas estão aí para quem quiser vê-las. Quem nunca conheceu um adolescente que tivesse certeza das coisas (de longe a principal origem de conflitos entre adolescentes e adultos), atire a primeira pedra;

-A terceira é a fase da maturidade (que pode, sim, chegar em qualquer idade), quando a experiência e o conhecimento acumulados apresentam todas as contradições e a complexidade de cada aspecto da realidade, e que cada verdade ou dogma estabelecidos anteriormente precisam ser confrontados com uma série de novos dados que corroboram teses em contrário. É uma fase assustadora em que, de repente, a rocha sólida em que os pés estavam plantados se transforma em areia movediça, a certezas desaparecem, e, frequentemente, as pessoas se entregam a certas atividades com o intuito de isolar-se deste mundo confuso e assustador (desde entorpecer a mente até afundar-se nas verdades e crenças anteriores, que lhes eram familiares e lhes davam segurança).

Nenhuma conclusão por enquanto :^P

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Trollagem divina

Tem dias que você sai para trabalhar, e quando você desce do ônibus, começa a chover, e o seu guarda chuva quebra quando tenta abrir. Ou você passa o dia de bobeira na internet, e o seu chefe te liga às 20:00 para você enviar um arquivo de algo que precisa ser entregue na manhã seguinte, e é neste momento em que a internet cai e não volta mais.

Deus está trollando você, então não precisa se aborrecer.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Nomes científicos: um dia você rirá de um

Nomes científicos não são apenas uma forma de um cientista se afirmar no meio de leigos de forma arrogante. Eles são um mecanismo de comunicação mais eficiente do que uma pretensa língua universal. Porque, quando uma espécie é descrita, ela recebe um nome científico binomial (o nome do gênero a qual ela pertence, e o nome da espécie, como se fosse seu nome e sobrenome), e é por este nome que todos os cientistas do mundo, do Chile ao Japão, da Suécia à Nova Zelândia, em todas as línguas e alfabetos possíveis, reconhecerão que a Fulana fulanoides Monocromatico (em itálico, porque é assim que vc identifica um nome científico no meio do corpo de um texto, seguido do nome do autor da espécie, porque ocorre, acidentalmente, do mesmo nome ser proposto mais de uma vez) citada aqui é a mesma Fulana fulanoides Monocromatico encontrada aqui neste outro lugar. Porque nomes populares podem variar de lugar para lugar, não apenas de língua para língua, mas até mesmo de um bairro para outro da mesma cidade, frequentemente, inclusive, sendo utilizado para mais de uma espécie, e esse tipo de confusão é inadmissível para um trabalho científico, porque você precisa saber e dizer exatamente o que você está fazendo.

Os novos nomes são regulados por conselhos de especialistas, que determinam a validade dos nomes científicos de acordo com regras debatidas em congressos internacionais. Mas como os biólogos são geralmente meio malucões, embora eles geralmente façam tudo como os códigos internacionais de nomenclatura determinam, algumas vezes uma irreverência, ou a presença de espírito, ou mesmo coincidências infelizes que em português ficam engraçadas (graças ao latim e às latinizações usados nos nomes científicos), acabam sendo aceitas no meio científico. Então, aí vão 15 nomes científicos curiosos que eu escolhi por aí:

15: Godzillius robustus Schram, Yager, Emerson: uma espécie de crustáceo caribenho com não mais do que 4,5 cm de comprimento.

14: Clitoria fragrans Small: uma Fabaceae, cujo gênero se caracteriza por flores que lembram uma vagina, com os estames posicionados onde seria o clitóris. Aqui foi um caso de coincidir da flor se parecer com as partes pudentas de uma donzela, e ainda ser perfumada. O Dr. Small até tentou mover esta espécie para um outro gênero, mas Martiusia fragrans (Small) Small não tem o mesmo efeito :^P

13: Chaos chaos Linnaeus: uma ameba, aqui, comendo um paramécio. Linnaeus foi quem oficializou essa coisa de nomenclatura binomial, e como era ele quem fazia as regras, há muitas coisas bizarras com a assinatura dele (felizmente, muitas caíram em sinonímia).

12: Guitarra flamenca Carballo & Uriz: espécie de esponja marinha encontrada no Mediterrâneo. O gênero é uma alusão à forma de guitarra do animal, e a espécie, um trocadilho com a sua distribuição geográfica, junto à costa espanhola.

11: Leonardo davincii Bleszynski: é comum batizar espécies em homenagem a pessoas importantes, mesmo que não sejam da área. Mas o Bleszynski exagerou, e criou o gênero Leonardo (uma mariposa da família Pyralidae) só para usar o nome completo do artista para a espécie. Essa não foi a única que esse Bleszynski aprontou...

10: Viola abortiva Jord.: uma espécie de violeta que estupra e manda tirar...

9: Sterculea foetida L.: Uma árvore asiática conhecida no Brasil como chichá. O nome significa o que parece: fedor de esterco, devido ao aroma de podridão das suas flores.

8: Dezenas e dezenas de nomes homenageando os personagens de J.R.R. Tolkien: embora O Hobbit e O Senhor dos Anéis tenham sido publicados décadas antes, foi a geração hippie dos anos 70 que redescobriu e popularizou as histórias da Terra-média. E se hoje os biólogos são doidões, nos anos 70 então nem se fala. Nessa época foram descritas espécies e gêneros, como Mithrandir (um mamífero fóssil), Smeagol (um molusco da família Smeagolidae), Gollum (um tubarão) Balrogia (uma vespa) e Bubogonia bombadili (outro mamífero fóssil).

7: Abra cadabra Eames & Wilkins: O gênero Abra (um molusco bivalve) ia bem até Eames e Wilkins fazerem esse trocadilho. Hoje este nome é sinônimo de Theora mesopothamica Annandale, apenas por questões taxonômicas.

6: Vampiroteuthis infernalis Chun: um molusco cefalópode, cujo nome significa "lula vampira do inferno", mas que não passa de um animalzinho de, no máximo, 30cm de comprimento.

5: Vini vidivici Steadman & Zarriello: uma espécie de papagaio. "Vini, vidi, vici" são palavras de Júlio César, significando "Vim, vi, venci", descrevendo sua atuação na conquista da Gália. Uma espécie de epitáfio para este papagaio extinto há cerca de 1000 anos nas Ilhas Cook.

4: Tyrannasorus rex Ratcliffe & Ocampo: não é o que parece. Repare que o gênero é Tyrannasorus, não Tyranosaurus. Trata-se de um escaravelho fóssil com mania de grandeza.

3: Phallus impudicus L.: um cogumelo europeu, cujo nome científico significa "pinto sem-vergonha". Veja por si mesmo.

2: La cucaracha Bleszynski: Bleszynski de novo. Ele descreveu o gênero La de mariposas da família Pyralidae (a mesma da mariposa Leonardo davincii), e batizou a espécie típica como La cucaracha. Anos mais tarde, outro biólogo, B. Landry, entrou na onda e batizou uma espécie nova como La cerveza B. Landry.

1: Aha ha Menke: Quando Menke recebeu uma amostra desta vespa então desconhecida, ele teria gritado "AHA!". Mais tarde, ele conseguiu escrever Aha ha na placa do seu carro. Não por acaso, ele compilou uma lista de nomes científicos engraçados e disponibilizou na internet.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O BRT da Transoeste como ele é

Muito bem, nos próximos 4 anos o Rio de Janeiro sediará Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Uma das preocupações da FIFA e do COI é com acessibilidade e transporte urbano. Para contornar o problema, as três esferas do poder público investiram, entre outras obras menores (pavimentação, transportes alternativos para pequenos trechos, ciclovias), na construção de três vias expressas e uma nova linha de metrô. Dos 4 principais projetos, apenas um está em fase de implementação: A Transoeste - via expressa que liga a Barra da Tijuca até Santa Cruz, no extremo oeste da cidade - e o Bus Rapid Transport, ou BRT (ônibus articulados que circulam por faixas exclusivas e param apenas em estações construidas ao longo da via. A Transoeste é um projeto mais antigo que as viagens à lua, previsto no plano diretor da cidade desde, pelo menos, os anos 1960. Chega a ser espantoso que uma obra de grande porte esteja pronta com um ano de antecedência ao primeiro evento capital, que será a Copa das Confederações, em 2013, mas trata-se de algo que a população espera desde o tempo do onça e nunca foi feito. Agora o prefeito posa de heroi ao lado do Lula e do governador adúltero, como se o trio fosse o idealizador da coisa. O espanto se desvanece um pouco mais se lembrarmos das eleições municipais daqui a alguns meses, e aposto partes do meu corpo como alguém se vangloriará de ter cumprido com a sua responsabilidade como se fosse um favor. O BRT está em circulação já há algumas semanas, primeiro em fase de testes, e agora totalmente operacional, esperando apenas o término de algumas estações. Haverá ainda uma ramificação do sistema, com a criação de uma faixa exclusiva na rua Cesário de Melo, ligando Campo Grande à Transoeste a partir de Santa Cruz. E nesse tempo, eu já pude experimentar o serviço algumas vezes, e preciso fazer algumas observações. A principal promessa dos outdoors da prefeitura era de que a viagem da Barra para Santa Cruz demoraria metade do tempo. Assumindo que seria metade do tempo a partir do terminal Alvorada, ponto final dos BRT, vou dar essa folga para eles. Então, eu cronometrei o tempo de viagem a partir da saída do terminal até a estação que foi construída (não prevista no projeto original) na entrada do meu bairro, e vi que, comparado com o ônibus comum, há uma defasagem de cerca de 15 minutos (considerando que o ônibus comum me deixa na esquina de casa, cerca de 1,5km adiante da estação do BRT). Como eu não usei o BRT em horário de grande movimento de trânsito e passageiros, até posso relevar e atribuir a diferença à bandalheira que é o ônibus comum, que não para nos pontos e ignora o sinal dos passageiros na rua, enquanto o BRT é obrigado a parar em todas as estações, mesmo sem ninguém para subir ou descer. Talvez, quando o comum tiver que carregar passageiros (sobrecarregar, na verdade, já que cada ônibus desses para a Zona Oeste leva uma lotação cerca de 50% acima do permitido), talvez a diferença diminua. Há duas "linhas", com os mesmos destinos: uma que segue direto para Santa Cruz, parando em poucas estações marcadas pelo caminho, e o parador. Talvez o BRT direto consiga cumprir a promessa do menor tempo de viagem, mas para usufruir dele, muitos teriam que tomar várias conduções para chegar à estação da rota direta mais próxima. Pouco prático para o meu bairro, por exemplo. Ainda sobre o tempo, ficou estabelecido que os usuários do BRT teriam o direito à integração de até três viagens com o valor de R$2,75, desde que as três conduções sejam usadas na ordem ônibus "convencional/alimentador - BRT - ônibus convencional/alimentador", e que as três conduções sejam utilizadas dentro de duas horas. Ora, nos meus testes, saindo do Jardim Botânico, tenho chegado à estação do BRT no meu bairro, entre girar a roleta do primeiro ônibus e chegar ao ponto onde passaria o terceiro, em cerca de 1 hora e 50 minutos, em horário de pouco movimento, restando para mim, apenas, 10 minutos para que um outro ônibus tenha boa vontade de passar, o que vai um pouco contra a estatística de frequência dos ônibus naquele lugar. Se alguém trabalha em Botafogo e precisa chegar na altura da estrada do Magarça (alongando o trajeto em, digamos, 10km), mesmo sem trânsito, nunca conseguirá usar a terceira condução com a mesma passagem. Em horários de pico, então, ele terá sorte se chegar ao Alvorada em menos de duas horas. Daí eu puxo para a questão da lotação. Quando o BRT foi anunciado, pensei em duas possibilidades: ou ele absorveria parte dos passageiros das linhas da Zona Oeste, aliviando os ônibus comuns como uma opção a mais de transporte; ou as duas companhias que dominam essas rotas retirariam carros de circulação, já que elas também operam os BRT, para manter a lotação acima do permitido, carregando o máximo de gente com o menor custo possível (o que os funcionários chamam de "bife", ou seja, toda a arrecadação acima do estimado que um ônibus consegue durante a viagem). Pelo que eu tenho observado no horários de pico, a segunda possibilidade é a que vem se concretizando, com ônibus super lotados, tanto os comuns como os BRT. Ao invés de absorver o excesso, este excesso está sendo apenas remanejado. Em uma fase posterior, as linhas que ligam os bairros da Zona Oeste à Barra serão modificadas, e sairão de seus terminais na Zona Oeste e irão apenas até estações específicas da Transoeste, deixando de circular pela Barra (que tem já a sua própria linha alimentadora). Por mim tudo bem, porque uma dessas linhas é a que circula pelo meu bairro, e ela continuará nos servindo, porém, então, ligando Campo Grande até a estação mais próxima. Essas alterações estão condicionadas a uma ampliação do corredor do BRT até o começo da Barra, no Jardim Oceânico, que é o destino final dessas linhas da Zona Oeste, e essa ampliação não foi feita por força da playboyzada da Barra que tem nojo de campograndense em seus shoppings e praias. O problema é que ninguém sabe se as alterações serão feitas mesmo assim, ou se realmente se esperará o momento em que o BRT circulará por todo o trajeto das antigas linhas, porque elas já deveriam ter sido colocadas em prática, segundo os informativos da prefeitura, e não foram. Caso o primeiro aconteça, obrigará pessoas a usarem, pelo menos, três conduções onde até uma seria suficiente. Vejo os empregadores olhando isso sem muita simpatia nem compaixão, e a própria incerteza pode ser prejudicial para os negócios e os empregados. Como pontos positivos estão o tempo de espera, que tem parecido regular e curto (tenho visto carros saírem de 10 em 10 minutos), ao contrário do que acontece nas linhas convencionais, algumas das quais com intervalos médios entre um ônibus e outro de cerca de 40 minutos. As estações são bem sinalizadas, com painés mostrando os horários dos veículos e postos automáticos de recarga do RioCard. Os ônibus são confortáveis, circulam a uma velocidade segura, mas, se você estiver em pé espremido contra a porta, dificilmente você sentirá algum benefício. Moral da história: não vote nesses filhos das putas que acham que o povo é idiota. Embora talvez até seja.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Hormônios, evolução do conhecimento, e patifes na ciência

Li em algum lugar (um artigo científico, creio, mas não o encontro em lugar algum) que um dos mecanismos que conduziram a evolução da linhagem humana no sentido do desenvolvimento técnico, científico e intelectual seria a peculiar emoção de descoberta e realização, o sentimento singular de satisfação e realização quando se encontra diante de uma solução ou resposta para um problema que se apresente. Esta emoção é mediada por hormônios que atuam no cérebro com efeito semelhante ao da paixão (a ocitocina), com um estímulo a mais para fazer a pessoa prosseguir à procura de mais respostas, relacionadas ou não com o problema resolvido. E, a longo prazo, induziria o indivíduo a continuar a buscar o prazer da descoberta. Diferentes níveis de hormônio liberado nessas situações, e diferentes níveis de sensibilidade a ele, poderiam explicar diferentes atitudes em relação à busca de um aprimoramento intelectual, embora não necessariamente à capacidade de aprendizado (a apatia diante de uma informação nova, contudo, certamente não é o melhor estímulo para continuar a estudar). Antes que darwinistas sociais comecem a pular das cadeiras e usar este dado para justificar avanços de algumas culturas não atingidos por outras mais "primitivas", é importante notar que, para que haja uma evolução técnica, a solução de um problema imposto, é preciso que este problema seja, de fato, imposto, e que os indivíduos ou a comunidade realmente o encarem como um "problema". A roda parece ter sido a coisa mais útil já inventada pelo homem, sobretudo para o transporte, mas em culturas onde não havia animais capazes de puxar veículos com rodas, elas nunca chegaram a ser inventadas - e, como exemplo disso, pode-se citar as três maiores civilizações americanas dos últimos séculos antes da chegada dos espanhois. O estímulo para criar o veículo com rodas nunca existiu, mas esses povos adquiriram conhecimentos altamente sofisticados em outras áreas que os europeus instruídos do século XVI tinham apenas algumas noções rudimentares. Cinco mil anos se acotovelando em solo europeu e guerreando com seus vizinhos (o problema com o qual eles tiveram que lidar para sobreviver) deram aos europeus a vantagem do grande desenvolvimento bélico, que fez toda a diferença no momento da conquista (além das doenças que traziam consigo). Enquanto eu absorvia o dado sobre a ação hormonal como incentivo bioquímico para o desenvolvimento do conhecimento, pensei logo nos cientistas, cujo trabalho se deduz em novas descobertas técnicas e teóricas para problemas persistentes. Pensei primeiro: "tá aí um grupo de gente cheia de hormônios da cabeça". Mas, embora a grande maioria dos profissionais da ciência que eu conheço pareçam se empenhar em suas pesquisas pela paixão por elas (suportando, até, o salário minguado para alguém da sua importância na sociedade), há pessoas, com renome no meio, até, que não sintam qualquer emoção diante do resultado de seus estudos, como se tudo já estivesse programado e tivesse que acontecer uma hora ou outra. A sua satisfação, que os motiva, reside no status que o seu trabalho lhes confere entre seus colegas. Como quem entra no facebook e posta algo bem pensado, mas impessoal e de autoria de outrem, apenas para ver quantos comentários vai receber, e, por algum acaso, o post terá utilidade para alguém. Eu sou dos primeiros, que não consegue ficar quieto diante de uma dúvida até que ela seja respondida, e tem particular prazer na sensação de trabalho concluído, mas a prova de que eu não sou um desses últimos é este blog, praticamente estéril de comentários, mas com alguns anos de idade e muito tempo empenhado para elaborar o conteúdo original de cada post :^P

terça-feira, 19 de junho de 2012

Uma ideia, duas frases

O papel em branco é uma ideia que não nasceu. Eis a excruciante angústia que é a responsabilidade de criar.

terça-feira, 6 de março de 2012

Jesus Luz no coração dos homens de boa vontade

Há quanto tempo eu não postava alguma coisa.

Resumo dos acontecimentos: estou trabalhando como supervisor de uma equipe de informatização num herbário importante, fui aprovado e estou na fila de espera para ser convocado num concurso para analista de projetos de uma instituição de fomento à pesquisa, me casei e aluguei uma casa para mim e minha esposa, e consigo ver TV após 7 anos de estática.
 
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