Como experimento esse amor assexual por outro ser humano (e como, respeitando a condição de gravidez e do resguardo, passei um longo tempo sem relações com a minha esposa), e tenho sido tão feliz, passei a me questionar sobre o papel do sexo na vida do homem: como ele é importante, mesmo sendo não tão bom quanto a gente quer acreditar que seja.
O homem é um ser hiperssexualizado, no sentido em que sua biologia e a sua sociedade lhe impõe um papel de reprodutor. O sexo é o pilar central de toda a sua vida até a indefinida idade em que sua potência diminui, mesmo que ele não se relacione sexualmente com outros.
No entanto, o sexo para o homem é algo frustrante: um exercício físico que resulta em 5 segundos de orgasmo, restando o cansaço e a sensação de que poderia ter sido melhor. Não é como a mulher, que tem a capacidade de passar vários minutos gozando e ter orgasmos seguidos (muitos homens nem sequer acreditam que mulheres atinjam o orgasmo!), muitas vezes sem excitação clitoriana (o homem depende muito da cabeça do pinto para sentir prazer físico numa relação sexual, porque não sabem ou preferem ignorar que um ponto de alto prazer no seu corpo é a próstata, alcançada apenas com penetração anal).
A maior parte da excitação vem do "thrill" da situação, principalmente quando se trata de uma conquista nova, ou quando o casal experimenta alguma novidade, mas o orgasmo do homem é isso aí. Tem quem goste, mas "gostar" pode ser resultado de uma construção, porque se isso é o melhor que seu corpo pode fazer, então é melhor "gostar" do que temos para hoje. Porém, a frustração do sexo leva muitos, MUITOS homens a buscar aquilo que falta com a sua/seu parceira(o), ou com outros, passando a vida pulando de cama em cama em busca de uma experiência orgástica biologicamente impossível.
E os resultados dessa frustração e dessa busca (frustrada) são:
- A típica distância emocional nas relações que o homem tem com os outros, especialmente com seus parceiros amorosos; se o homem não se satisfaz na cama, ele reluta em se entregar emocionalmente a(o) parceira(o);
- Dificuldades de relacionamento e depressão, pela pressão que lhe é imposta pela sociedade patriarcal para ser o macho alfa, o comedor, o garanhão, estar sempre pegando alguém, enfim, e isso afeta especialmente os tímidos (que associam uma vida conjugal e/ou sexual como o ideal de felicidade, tornando-se emocionalmente dependentes) e os homossexuais;
- Violência conjugal (física ou psicológica), pois muitos, MUITOS homens punem suas parceiras e parceiros pelo sexo ruim. Essa violência pode se estender ao círculo social do homem como um todo, mas visto como muitos homens socialmente bacanas mantém relacionamentos abusivos, a coisa é direcionada a quem ele culpa.
O homem é essa criatura infeliz, que preenche um vazio existencial imprimindo, buscando posições de comando e poder, influência e notoriedade numa sociedade construída por homens que lhes dá espaço de manobra para compensar suas frustrações sexuais em detrimento da felicidade alheia.
Se tem algo que eu possa dizer aos outros homens para que fiquem em paz consigo mesmos e parem de encher os outros com seu ego, digo isto: tenham filhos, e cuidem deles, experimentem todos os momentos que puderem juntos, e contemplem o que é o amor verdadeiro. Ou não tenham, mas sejam honestos consigo mesmos e ajudem a desmontar esse sistema, que não faz bem a ninguém.
P.S.: alguém há de questionar "Ah, mas e as mulheres...?". Desculpa, eu não sou mulher.