segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Breves impressões sobre Dali

A arte é uma forma de expressão que funciona de maneira diferente sob dois aspectos: do ponto de vista do artista, seus sentimentos, sua mensagem, sua ideologia, sua técnica; do ponto de vista do observador, a maneira como aquela expressão é absorvida pelos seus sentidos, e a maneira como essa visão transformada o atinge. Creio que quanto menos estudo, quanto mais cru é o observador, mais autêntico é o impacto de uma obra sobre ele. Seria o meu caso.

Ontem visitei a exposição de Salvador Dali, no CCBB. Embora eu conheça a excentricidade do artista - quem não conhece? - e consiga identificar suas pinturas mais famosas e um estilo, sei pouco do que ele realmente pretendia expressar nelas. Mergulhei no seu universo com algo a que me apegar como "familiar" no meio de tanta estranheza. Formas humanas torturadas desconstruídas e solitárias em vastos cenários etéreos, com sombras, fantasmas, rochas e carne. Um mundo maior, mais rápido, que não tinha mais espaço para o clássico, para a forma, para o indivíduo, como devia parecer ao homem observando o desenrolar da primeira metade do século XX.

Minha impressão? Em cada quadro, eu recebi uma mensagem positiva: o homem oprimido pelos seus terrores pessoais expulsando seus demônios, libertando-se, ascendendo espiritualmente, negando-se a ser arrastado para a espiral de autodestruição niilista do mundo moderno. O homem que suprime seu ego, deixa de ser rocha e passa a ser diáfano. O homem que deixa seu terno e sua obrigação de trabalhar para alguém e fazer o que se espera dele para colecionar telefones verdes e vestir-se com fios de cobre. Ele salva Dom Quixote transformando-o também em matéria de sonho, unindo-o finalmente à sua Dulcinéia.

Extremamente inspirador.
 
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