sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Nananananananananan BATMAN

Hoje sonhei que Bruce Wayne/Batman era um tiozão de 50 anos, sem o olho esquerdo, o que arruinava o seu disfarce. Mas as pessoas são burras nesse mundo de super heróis a ponto da Lois Lane não conseguir reconhecer o Clark Kent quando ele tira o óculos e fica só de cueca, então isso não era empecilho para que Bruce continuasse sua carreira decadente de Batman de meia idade... ou melhor, de idade e meia.

Os únicos que sabiam da sua identidade secreta eram o perene mordomo Alfred, e o seu melhor amigo, um outro tiozão que ganhava a vida consertando telefones. E o amor de sua vida era ninguém menos que a ROSANA ("Como uma deusa..."). E eu era apenas o espectador da parada, uma espécie de câmera man.

Bom, era num domingo ensolarado, em que colecionadores de aviões antigos estavam voando com seus aparelhos já quase centenários pelo céu, quando Bruce conversava com seu amigo consertador de telefones, desapontado porque a Rosana, sua antiga paixão, estava interessada em outra pessoa. Então ele foi ao seu apartamento vestido de Batman, para tentar atiçar a sua libido quinquagenária. Enquanto ela atendia o interfone, ele fazia sua entrada ninja característica surgindo ao seu lado sabe-se lá como.

Enquanto isso, a cena mudava para um close no telefone vermelho do Comissário Gordon. Ele estava sendo seguro pela mão de uma pessoa morta que estava dentro da parede do escritório (!), que, aparentemente, havia sido devassado por algum dos psicóticos que assombram Gothan City. Gordon pegou o telefone e ligou. Alfred, como bom mordomo, atendeu do outro lado e anotou o recado. Sem conseguir ligar para o seu patrão (que naquela altura, devia estar ocupado com a Rosana, entre o amor e o poder), ele pegou um dos carros da mansão e foi ao seu encontro.

Era fim de tarde, e estava tendo uma passeata de praticantes do naturismo em plena Av. Abelardo Bueno, na chegada à Barra da Tijuca, o que impediu que Alfred prosseguisse de carro. Ele ligou novamente para Bruce Wayne, e finalmente conseguiu combinar um ponto de encontro, onde ele deveria deixar o equipamento para ele se deslocar até o local da ocorrência. Ele pegou uma moto que vinha dentro do carro. Só que, ao contrário dos filmes, era uma motinha 125cc, com pneus murchos, mas que o velho empregado pilotava com extremo arrojo, em uma bela cena de ação.

Bruce vinha de carona com seu amigo. O consertador de telefones tinha uma caminhonete, em cuja caçamba ele levava peças, aparelhos, etc. Bruce vinha sentado num estrado de madeira nessa caçamba. Já era noite quando, enfim, encontraram Alfred, que, com pneus vazios, já não conseguia mais se deslocar. Eles pararam, colocaram a moto sobre a caçamba, e o mordomo repassou ao patrão as instruções do Comissário Gordon. Bruce, porém, estava tão deprimido (provavelmente ao confirmar que Rosana não o amava mais, nem como Batman) que não estava a fim de enfrentar o crime naquela noite.

Fim. Feliz natal.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Falta água em Guaratiba

A CEDAE desvia a água do bairro de Guaratiba para manter o abastecimento de outras partes da cidade. Esta não é uma acusação leviana: não é uma simples calúnia porque eu moro em Guaratiba, e há 3 ou 4 semanas não se tem aqui um fornecimento de água regular, com escassez ou completa falta de água encanada a maior parte do dia, e todo verão desde que eu me mudei para cá tem sido assim; tampouco é uma acusação infundada baseada em inverdades ou conjecturas saídas da minha própria cabeça, porque essa informação (o desvio de água de alguns bairros para manter o abastecimento de outros) já me foi confirmada por um funcionário da própria CEDAE.

Guaratiba, assim como várias partes de Campo Grande, Santa Cruz, e outros bairros da Zona Oeste, são lugares pouco populosos, praticamente desconhecidos pela maioria da população da cidade, geralmente com IDH baixo, mesmo que surjam alguns condomínios de classe média, ou que alguns figurões tenham sítios e propriedades nestes lugares. Estamos aqui muito próximos da estação do Guandu, a principal central de abastecimento de água da CEDAE para a região metropolitana do Rio. Porém, esta central já não suporta mais atender toda a região: em épocas de baixa demanda, como no inverno, o abastecimento de água pela cidade fica perto do seu limite máximo, e quando vem a alta demanda, no verão (especialmente nas festas de fim de ano e no carnaval), quando, além do maior uso da água pelas pessoas daqui mesmo, ainda existe o grande aporte de turistas que entra nessa conta. E aí esta conta não fecha. Isso também foi confirmado pessoalmente pela minha fonte da CEDAE.

Por isso, como a construção de outra central, ou outras, de distribuição de água para atender a demandas locais para aliviar o Guandu, investimento que só terá retorno em médio e longo prazo, a solução mais simples é desviar a água desses bairros e localidade com os quais a cidade de maneira geral não se importa, e cujas populações são basicamente um monte de pobres que não merecem atenção nem da população, nem da imprensa, e quanto menos da empresa. Só que aqui também existem pessoas pagando seus impostos e suas contas de água em dia, tanto quanto as dondocas do Lebrão e as bichas velhas de Copacabana. E além do consumo doméstico, que é essencial e universal, aqui existem fábricas, micro e pequenas empresas, e fazendas (Guaratiba especificamente é uma zona rural), que dependem da água para manter suas atividades econômicas.

Então, como isso não terá jamais atenção de órgãos de informação, fica aqui registrado o meu protesto, e com certeza não será o último. No carnaval estarei muito aborrecimento pela falta de água, e serei menos educado :^P

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ano terminando, agora vai ladeira abaixo

Estou escrevendo num iMac, uma extravagancia que conseguimos com verba estrangeira aqui no trabalho (o bem feitor, que tambem paga meu salario, eh um desses americanos milionarios que nao sabem o que fazer com o dinheiro e saem financiando projetos cientificos mundo afora via fundacao, por onde ele consegue abatimento de imposto de renda e outros impostos das suas industrias altamente poluidoras). Eh provavelmente o melhor computador que eu jah usei e que eu usarei por muitos anos. O problema, como jah deu pra notar, eh que eu nao consegui configurar o teclado e nao tenho acentos :^P Vai assim mesmo.

O fim de ano comeca no meu aniversario, que eh hoje. No tempo de escola, o ano letivo sempre terminava antes desta data, de modo que eu nunca tive aquelas festinhas organizadas pelos colegas, nem sequer uma aula interrompida para cantar parabens pra mim. Era um pouco frustrante pensar nisso durante o ano, mas como, ao chegar do dia 13 eu jah estava, quase sempre, de ferias, isso perdia toda importancia ("posso comemorar em casa, losers!").

Com o tempo eu passei a dar menos importancia ao aniversario. Na epoca da faculdade, eu convidava os amigos para comemorarem lah em casa. Fazia a coisa para eles curtirem mesmo, como uma forma de agradecimento pela convivencia, que era muito prazerosa durante todo o ano. Era menos uma forma de reunir pessoas para me congratularem, porque o aniversario se tornou soh uma data que se repete todo ano, e nao vejo realmente muito sentido em comemorar isso. Se o trabalho de parto tivesse demorado mais meia hora, eu teria nascido no dia 14, entao qual a diferenca?

Mas isso jah me aborreceu mais. Hoje levo numa boa. O que mais me deixa estressado sao os telefonemas, jah que eu tenho panico de falar ao telefone, e cada toque me dah uma descarga de adrenalina que me deixa em estado de tensao durante dia. Como o numero de parentes, que jah eh pequeno, tem diminuido ao longo dos anos (por conta de divorcios, meus ex tios, por um motivo ou outro, cortaram contato), isso tem me dado menos trabalho :^P Ainda bem que estou trabalhando hoje e nao preciso ficar de prontidao em casa.

Bom, continuando, a partir do meu aniversario, quando todas as ruas jah estao enfeitadas desde outubro, eh quando comecam as retrospectivas e especiais de fim de ano na TV. Os desenhos animados tem temas natalinos, o Chaves se muda para a casa do Senhor Barriga, Papai Noel anuncia os melhores precos dos supermercados, e jah eh natal na Leader Magazine. O importante eh que o recesso no trabalho comeca dia 17, embora estejam todos se programando para encerrar o ano num almoco no dia 16, do qual eu nao participarei. Nas ultimas duas semanas, alem do trabalho no Museu, tambem estive trabalhando na Trixx Design enlouquecidamente por mais de 3 semanas, o que fez com que eu ficasse 26 dias sem descanso. Este foi o meu primeiro final de semana desde que voltei de Sao Paulo no meio do mes passado. Pedidos entregues, jah eh uma das obrigacoes que eu risquei da agenda.

Entao vem o periodo pre natalino, quando se comeca a comprar as nozes e os panetones. Minha avo vem ai, e ela adora panetone, nunca deixa faltar. As frutas da familia Rosaceae sobem de preco, e as ruas ficam entupidas de gente com sacolas comprando a felicidade alheia com a primeira parcela em junho de 2011. Andar por ai se torna uma tarefa das mais dificeis para mim, que tenho panico de multidoes (eu pensei em postar a aventura do trem de hoje, mas deixa para outra ocasiao :^P), por isso preciso comprar tudo que eu pretendo dar de presente esta semana.

Quando passa o natal e os papais noeis de shopping sao dispensados, vem aquela falsidade do Show da Virada, que eh gravado uns 10 dias antes, mas o publico e os artistas precisam se vestir de branco e fingir que estao em contagem regressiva para o fim do ano. A coisa mais legal eh ver se algum brasileiro vai conseguir terminar na frente dos quenianos na Sao Silvestre. Na noite do dia 31, a queima de fogos: de vez em quando a prefeitura estoura fogos na baia de Sepetiba, de modo que o espetaculo eh visivel de casa e eu nao assisto pela televisao. De casa, eu falei? Nem que eu morresse e pendurassem o meu cadaver num poste em frente ao Copacabana Palace eu passaria a virada na praia. Prefiro que a TV fique travada num canal que passe repetidamente todos os especiais do Roberto Carlos eternamente e que me amarrem e me coloquem na situacao proposta em Laranja Mecanica do que passar perto das aglomeracoes de pessoas exaltadas e, frequentemente, bebadas.

Por tudo isso, eu costumava emular um pseudo judaismo ao longo dessas ultimas semanas do ano, mas como os judeus tambem tem as suas celebracoes e eu tambem nao compartilho delas, desisti da ideia :^P

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Bactérias alienígenas nativas daqui mesmo

A NASA havia anunciado semana passada que faria um pronunciamento de uma descoberta que revolucionaria a pesquisa de vida extra-terrestre, e logo a internet se encheu de boatos sobre a descoberta de seres vivos no espaço. Como todo mundo gosta da ciência só quando ela dá chilique, a notícia divulgada ontem e a publicação de artigo na Science, devem ter causado uma brochada em milhões, sobretudo na galera new age que pensava que finalmente a verdade sobre discos voadores seria revelada. No entanto, do ponto de vista científico, sobretudo no ramo da biologia (de seres terráqueos ou não), foi uma descoberta espetacular.

Embora se discuta ainda o que seja "vida", ou até que ponto certas associações de moléculas orgânicas podem ser chamados de "seres vivos", uma coisa era certa: todos os seres vivos, seja lá pelo conceito que fosse, eram constituídos, primariamente, por seis elementos químicos: hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Esses elementos estão presentes em ácidos nucléicos, proteínas, e lipídios, além da água, que é basicamente quase tudo de que somos feitos.

O que o grupo liderado pela pesquisadora Felisa Wolke-Simon, da NASA, descobriu foi uma bactéria capaz de substituir o fósforo por arsênio, que, embora possua propriedades químicas parecidas com o fósforo, com o qual divide a mesma coluna da tabela periódica, normalmente é um elemento tóxico. Essa bactéria vive num lago salgado e repleto de arsênio na Califórnia (Lago Mono, hahahah), e pelas fotos do local dá pra ver que se trata de um local praticamente estéril, não apenas pela alta salinidade, mas também pela presença do elemento químico venenoso. Em laboratório, verificou-se que, em presença de fósforo, essas bactérias utilizam este elemento preferencialmente para sua constituição e processos químicos, mas que com o aumento de arsênio no meio de cultura, elas são capazes de substituir o fósforo por esse, embora sua reprodução e a eficiência do seu funcionamento de maneira geral sejam muito menores. Isso indica uma evolução de uma bactéria normal dependente de fósforo no sentido de sobreviver a um meio pobre com crescente disponibilidade de arsênio (e não que elas tenha vindo de outro planeta, como ainda verei escrito por aí, não tenho dúvidas :^P). Não se sabe ainda se elas são capazes de viver na total ausência de fósforo no meio, ou se as migalhas desse elemento que elas conseguem assimilar ainda são necessárias para seu funcionamento.

Para se ter uma ideia do significado disso, o fósforo, na forma de fosfato, é um dos componentes mais importantes, por exemplo, na obtenção de energia de uma célula: quando a molécula de glicose é quebrada, a energia liberada em forma de calor excita enzimas chamadas ATPases, que mudam de conformação e juntam uma molécula chamada adenosina-di-fosfato (ADP) com um íon fosfato livre no meio, formando uma molécula de adenosina-tri-fosfato (ATP), que carrega essa energia para os demais lugares da célula, onde ela é necessária. Sem o ATP, toda energia contida nas ligações da molécula de glicose seria liberada na célula sob forma de calor, e ela morreria quase instantaneamente. Vc não teria tempo nem para o último suspiro. Além disso, o fósforo é componente de diversas proteínas, que são as ferramentas que a célula tem para cumprir suas funções, lipídios, que constituem as membranas que a protege, e ácidos nucléicos, que formam o DNA. Mesmo na forma inorgânica, como ácido fosfórico, é útil para o equilíbrio do pH.

Por conta dessa importância tão fundamental, era improvável que existissem formas de vida, da forma como conhecemos, que dispensassem o fósforo. Também era improvável que existisse alguma que pudesse depender de arsênio para suprir suas funções vitais. A descoberta de tal microorganismo é, portanto, algo tão extraordinário quanto se tivesse sido encontrado em outro planeta. Além do interesse em se descobrir como um organismo pode funcionar com arsênio no lugar de fósforo, também abre possibilidades para a pesquisa de vida em outros planetas. Da mesma forma que se pode viver com arsênio, quem sabe se não pode existir vida que seja constituída por silício ao invés de carbono, ou que não use água como solvente, ou qualquer coisa assim. Ao invés de procurar em lugares parecidos com a Terra e ignorar planetas e luas feitos de amônia porque as formas de vida que conhecemos não poderiam viver ali? Enfim, uma resposta leva a muitas perguntas, e isso é ciência!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Como está o Rio do lado de cá da Grota Funda

Eu iria escrever algo sobre a atuação da polícia no Complexo do Alemão, mas desde quarta feira passada eu não sento na frente do computador com calma e descansado, e eu já esqueci o que eu iria dizer mesmo :^P

Hoje é o primeiro dia que eu venho ao trabalho desde então. Não é porque eu sou um vagabundo: é que eu trabalho em dias alternados, na sexta passada o bicho estava pegando na cidade, e na segunda última, a chefe mandou ficar em casa. Moro num lugar em que o carrinho do Google Maps não se atreveu a entrar, onde o Comando Vermelho nem sequer põe o pé (possivelmente, nem saiba que exista), então a vida seguiu normalmente por lá. Coisas da roça.

Então hoje deu para ver como está a cidade. Na verdade, não dá pra ver muita coisa significativa. O caminho do ônibus que eu geralmente pego passa pela Linha Amarela e dá tchauzinho para o Alemão. Num determinado ponto, num cruzamento sob a via, vi um caveirão estacionado num posto, 3 ou 4 carros da polícia civil abrindo caminho pelo trânsito em direção à Avenida Brasil (ao chegar procurei por notícias do que poderia ter acontecido, mas não vi nada além de uma batida nessa avenida). Também havia um tanque (tanque mesmo, não esses blindados com lagartas que tem aparecido na TV usados como transporte de policiais no Alemão) e vários soldados do exército próximos à refinaria de Manguinhos.

Tirando isso, as pessoas estão andando em círculos nas suas caminhadas no estacionamento do Via Parque, os ônibus estão lotados e os carros estão trancando o trânsito nos gargalos de sempre. Não dá para negar um clima de apreensão pela incerteza do que pode acontecer no próximo minuto, mas no geral ninguém está mudando sua rotina por causa disso.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Foco

Há várias semanas eu não tenho me focado em assuntos importantes para a minha vida. Tenho restringido meu "funcionamento" às obrigações do quotidiano, ao trabalho, aos hábitos viciosos (não necessariamente vícios ruins... a leitura numa determinada hora da noite, por exemplo), enfim, tenho estado em piloto automático, e me dedicado pouco à reflexão, às resoluções, à identificação e resolução de problemas, ao estabelecimento de metas e estratégias. Todo esse processo tem gerado sintomas, como impaciência, aborrecimento crônico, e até tenho engordado (acredito que a minha pressão também tenha subido), por causa de uma sensação leve porém constante de frustração por causa de uma aparente estagnação. Agora que passou que eu compreendo meus rompantes de mau humor dos últimos tempos.

Mas veja como é bom para um homem ter uma mulher que se importe com ele. A minha me deu um bom chacoalhão dias atrás, apontando para mim o que eu tenho de errado, onde eu tenho faltado, e avisando sobre coisas que eu, nesse torpor, não percebia. Simultaneamente, meu outro trabalho tem me mantido fisicamente ativo, e como é um trabalho que demanda pouco do intelecto, tenho tempo para pensar (um método de meditação pouco diferente do que defende o mestre budista Thich Nhat Hanh, que recomenda o foco no trabalho presente como forma de torná-lo agradável ou pelo menos suportável e anular as angústias). Tudo isso tem sido construtivo. Nas próximas duas ou três semanas, já me programei em termos de tempo e dinheiro para resolver algumas pendências que tem se arrastado por meses.

É preciso foco para viver plenamente. Sua mente, sua consciência precisa estar onde seu corpo está, e no tempo em que ele se encontra. Corpo e mente precisam ressoar em conjunto para realizar tudo que precisa ser feito. Uma mente no passado tende a ser inerte, e no futuro, tende a gerar angústia e ocasionar ações precipitadas, assim como uma mente no presente, mas sem foco no que o corpo precisa (e no entorno deste corpo, o que inclui obrigações, relacionamentos, pendências), só com muita dificuldade consegue cumprir alguma tarefa simples ou compreender as circunstâncias de um evento qualquer, e elaborar uma reação de acordo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Proselitismo religioso e cinema

Nosso país é regido por uma Constituição que nos garante a liberdade de culto. Ninguém é obrigado a ter uma fé religiosa ou se afiliar a qualquer instituição deste tipo, mas tem o direito de fazê-lo, desde que, claro, este direito não interfira em outros. Um exemplo é a restrição vigente aqui no Rio quanto à pregação religiosa nos trens urbanos, onde as pessoas não podem escolher se querem ou não participar dessa atividade - ou seja, fere-lhes o próprio direito ao culto, ou não.

Cheguei aqui abrindo o post dessa forma, pensando nos recentes filmes cujo tema central é o espiritismo. Tem um terceiro filme, desses de grande distribuição, em dois anos, sobre esse assunto. Não creio que produções cinematográficas firam de alguma forma direitos alheios, e acho até que se enquadram perfeitamente no que a Constituição Federal configura como liberdade ao culto. Diretores, atores, produtores podem expressar sua fé artisticamente da maneira que quiserem, e assiste quem achar que deve.

O que me deixa preocupado é que a produção cinematográfica, tão pobre no Brasil, esteja começando a ser reduzida a um veículo de pregação religiosa. Estava assistindo um debate com Cacá Diegues no Roda Viva da TV Cultura, onde ele ressaltava os grandes avanços técnicos que o cinema brasileiro tem alcançado, em parte graças aos progressos da dramaturgia televisiva, mas ressalvava como as produções ainda são caras demais para o pouco público que as procura, e como essa insegurança no retorno financeiro dos investidores dificulta a captação de verbas que não sejam oferecidas via Ministério da Cultura. Ele elogiava, inclusive, a criatividade dos diretores brasileiros e estrangeiros, de países com México e Argentina, que apresentam características semelhantes às nossas, em produzir algo de qualidade nessas condições.

No entanto, 3 produções centradas num tema religioso (uma biografia, uma baseada em obra psicografada, e agora um documentário) vieram à luz (sem trocadilho) num curto espaço de tempo. Isso mostra duas coisas: a avidez que o público tem por filmes que digam algo que lhes faça sentido, e o oportunismo de quem detem a grana, que prefere canalizar seus investimentos para uma fórmula que lhes assegurará o retorno.

O problema é que isso pode estar conduzindo o cinema brasileiro a um beco cultural sem saída: nosso cinema já é tão carente de uma personalidade e uma linguagem próprias (em parte, massacradas ainda no seu período formativo pelo regime militar, e aniquiladas de vez com o fim da Embrafilme, no governo Collor), e agora periga de perder até sua propriedade de expressão da nossa cultura e nossa realidade para se tornar um veículo de pregação religiosa, porque é isso que vende. Eu já posso antever grandes produções estreladas por atores conhecidos, patrocinadas pelos auto-proclamados apóstolos e bispos das igrejas neopentecostais, que não serão mais do que extensões dos seus programas de TV, com uma dramatização pouco mais elaborada. Acho espantoso que a Igreja Católica já não faça algo do tipo sistematicamente. Posso até contar as sandices da Xuxa e seus duendes nesse bolo.

Novamente, não acho ruim que se faça filmes com temas religiosos, para públicos específicos. Mas tenho medo que isso vicie a indústria do cinema, e acabe por anular este veículo tão importante de divulgação de cultura no Brasil. Será que, no momento em que filmes religiosos obliterarem o espaço para a produção de filmes laicos, eles estarão violando a liberdade de culto de quem gostaria de poder ir ao cinema para ver um filme mas não pode porque esse tipo de filme não é mais produzido por falta de interesse de financiadores, e não para adorar imagens em movimento?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

u pal ta torando cara

Três dias de jogatina. Mega Drive, Master System, Saturn, Dreamcast, jogos de luta, plataforma, cooperativos, feiras de rolo, exibição de itens raros, torneios, sorteios, novos contatos, amigos, nerds, twitcam, vídeos, comida, zoeira em casa e na rua. Esse foi o 2º encontro da comunidade Mega Drive, realizado em São Paulo durante o feriadão.

Quem quiser ter uma ideia de como foi o encontro, acesse o canal do U COLECIONADOR no youtube: http://www.youtube.com/user/legendofbboy1d#p/u

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Encontro nacional de fãs de Mega Drive (2)

Só para mostrar o poster do evento:



Mais detalhes no post logo abaixo deste.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Encontro nacional de fãs de Mega Drive

A quem interessar possa:

2º Encontro da Comunidade Mega Drive no orkut

Dias 13, 14 e 15 de novembro, em São Paulo, SP.

Será um evento para todos os old gamers amantes da geração 16 Bits e dos video games da Sega, sobretudo do Mega Drive. Haverá encontro de colecionadores, feira de rolos, 5 consoles ligados ao mesmo tempo para a galera jogar uma biblioteca enorme de jogos à vontade. Também organizaremos campeonatos, atividades diversas, e um quiz show. Haverá rifas com diversos prêmios, bem como premiações para os campeonatos e desafios: o prêmio maior, um Mega Drive original, em perfeito estado!

A entrada é franca, o único gasto será com alimentação e na participação opcional das rifas, e não é preciso ser membro da comunidade para participar: basta gostar do Megão e querer se divertir na jogatina. Haverá participantes de todo o Brasil: São Paulo capital e interior, Rio (eu), Paraná, Sergipe, Ceará, Rio grande do Sul, além da presença do maior colecionador de Mega Drive do Brasil, Diego Ramires, U COLECIONADOR. Menores de idade só poderão participar com autorização por escrito ou acompanhados por um responsável (não rolará nada impróprio para menores, apenas por questão de segurança).

O ponto de encontro será na catraca da estação do metrô Sacomã, no bairro do Ipiranga, todos os dias do evento, das 12:00 as 13:00. Quem morar fora da cidade e precisar de lugar para pousar, existe a possibilidade de hospedagem no local do evento. Para mais detalhes, entre em contato, pq não vou publicar o telefone e o endereço do cara que vai sediar o evento assim a esmo :^P

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quem quer, aprende em qualquer lugar

Já adianto que corro o risco de estar me repetindo :^P

Tem gente que nem se dá ao trabalho de refletir quando alguém lhes diz que passa boa parte do tempo livre jogando vídeo game: "é um alienado".

Um game é um produto de sua época e do seu lugar, como expressão das pessoas que os produzem, e do público a que ele é direcionado. Como tudo que é produzido por alguém também é. Nos games, você identifica esses "onde", "o que", "quem" (em inglês é mais fácil, são os "wh") nos elementos gráficos e narrativos presentes no jogo. No conjutno deles você depreende os temas, a ambientação proposta. Tudo isso se destina a transmitir, numa linguagem inteligível (mesmo que inconscientemente), uma mensagem que mantenha a atenção do jogador presa à ação que se desenrola na tela, e o convida a participar dela.

É batata. Você pode verificar que tipos de jogos ou quais títulos são grandes sucessos em quais lugares do mundo. Propaganda tem muito a ver com isso, mas a propaganda não faz um jogo legal depois que você se senta e começa a jogá-lo se ele não for. E o que faz um jogo "legal" é como ele o induz a participar dele. E essa indução apela para aspectos culturais pertinentes à cosmologia individual da pessoa, ou social, do meio em que ela vive. Culturas violentas (ou mesmo pacíficas, mas que cultuam um passado de violência, vide os hinos nacionais da maioria dos países europeus hoje "civilizados") demandam jogos violentos, culturas que prezam seu passado demandam jogos que abordem temas históricos, culturas nacionalistas (que exaltam exacerbadamente símbolos nacionais, por vezes arbitrários) demandam jogos que apresentam, ou mesmo simulam aspectos delas. É por isso que um jogão de luta de Super Nintendo, cujo tema é Tae Kwon Do, foi lançado só no Japão e na Coréia do Sul, os FPS (tiro em primeira pessoa) e simuladores de combate aéreo da Segunda Guerra Mundial ou Vietnã, onde os americanos são os herois arquetípicos, são um sucesso estrondoso nos EUA e em sua periferia cultural. E por isso existem milhões de chatérrimos e bizarros jogos de Mah Jong, Pachinko e Turfe para video games, e você não entende por que.

Eu, que me interesso por temas históricos e jogos de estratégia (não necessariamente uma coisa tem a ver com a outra), adoro Civilization. A série toda. Civilization tem uma coisa muito legal, que nem tem a ver com a ação em si e nem precisaria estar lá para que o jogo funcione, mas foi incluída mesmo assim, que é a Civilipédia: uma sintética enciclopédia detalhando todos os temas abordados no jogo sob o aspecto histórico (tipos de terreno e recursos naturais e como eles foram ocupados ou explorados, as civilizações e seus líderes, unidades militares, etc.). Como simulação histórica, é um fracasso, até porque as variáveis são tantas que o comportamento da IA (inteligência artificial) sempre beira a aleatoriedade, segurada apenas por alguns atributos pré programados. Mas o jogo é um medium para você se introduzir nesses assuntos.

Gosto muito do CivIII. Acho que o timing dele é perfeito, embora perca em complexidade e beleza para versões posteriores, e é por causa esse ritmo que eu o jogo (e porque o CivIV é em DVD, e só no PC da minha irmã que eu posso jogar :^P). Ele tem alguns cenários prontos, onde você se vê como líder de uma nação real em um cenário que simula um período histórico real (que obviamente não se desenrola com fidelidade histórica, dada aquela aleatoriedade de que eu falei, além de você também ter sua própria inteligência para tomar decisões inesperadas :^P). Um dos meus cenários preferidos, basicamente porque ele tem regras e elementos bastante diferentes do usual, é um situado no período Sengoku, a guerra civil entre Daimyos ("senhores feudais") do Japão entre os séculos XVI e XVII. Dele participam os Daimyos mais famosos e importantes da época, não necessariamente situados cronologicamente de maneira correta (Oda Nobunaga deveria deixar de existir antes da metade do jogo e se bate com Daimyos que não estavam ativos quando ele era vivo... enfim, neuroses minhas), e nele você constroi monumentos, obras públicas, unidades militares, e desenvolve tecnologias próprias do período. Eu, como bom nerd, cacei informações sobre tudo que despertou a minha atenção nesse cenário.

Ultimamente tenho lido Musashi, de Yoshikawa Eiji, na versão em dois volumes tijolões que pertencem ao meu ex-futuro-cunhado, e por isso preciso ler o mais rápido possível para não abusar da boa vontade dele. O livro aborda, de maneira largamente fictícia, a vida do samurai Miyamoto Musashi (que eu já conhecia por um livro que ele mesmo escreveu, o Livro de Cinco Anéis). Ele pega o final do período Sengoku, quando a política japonesa começava a se assentar em torno do shogunato Tokugawa. O autor trata das peregrinações do samurai na sua juventude, e as aventuras dos personagens secundários que orbitam em torno dele, e as usa como pretexto para introduzir na história personagens famosos da época. Ler esse livro me remete ao que eu aprendi jogando Civilization: da deflagração do Sengoku (a guerra civil), da ascenção de Oda Nobunaga, da coalização encabeçada por Toyotomi Hideyoshi, da tomada de poder por Tokugawa Ieyasu, da reconstrução do país, das classes sociais, da participação na política de daimyo como Takeda Shingen, Uesugi Kenshin, e Date Masamune (que vc não deve ter ouvido falar, mas certamente o reconheceria pelo elmo com uma lua crescente na fronte, característico dele, que se tornou o arquétipo do samurai em sua representação ocidental, como Tom Cruise em O Último Samurai). Enfim, é um ambiente familiar pra mim, e cada nome que surge, eu já penso "esse cara era foda". O veículo para isso foi, tchan, um video game.

Por isso, quem quer aprender, aprende com qualquer coisa. Qualquer atividade e qualquer fonte pode ser instrutiva ou destrutiva, dependendo da índole, da capacidade, e da vontade de cada um. É possível aprender alguma coisa com Big Brothers da vida, mesmo que seja pelo menos aprender a mudar de canal - já é algo construtivo, algo que se encaixaria numa coisa que Einstein (eu acho) disse, parecido com isso: "quando você aprende, seu cérebro se dilata, e nunca mais volta ao tamanho original".

Já são 11:00 e é melhor eu começar a trabalhar :^P

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Comunismo, jornalismo, video game, moda feminina (e parênteses)

Várias pequenas coisas, algumas delas grandes até:

-Embora não me surpreenda mais, eu continuo abismado com aquilo que acabou se estabelecendo como "jornalismo" no Brasil: de obtenção e divulgação de informações, os principais meios de comunicação se tornaram meios de manipulação. Da manchete principal da capa do jornal até a charge, na seleção das cartas de leitores, nas colunas esportivas, e até nas pequenas notas, querem me fazer acreditar que o Brasil é quase uma União Soviética, e que só faltava a Dilma ser eleita para completar a "revolução" (porque o PT tem os piores revolucionários da História, que tem um Estado Nacional entregue nas mãos de bandeja por um apoio popular sem precedentes por 8 anos e não conseguiu mudar nada :^P). Que o PAC não existe, e que aquela vila olímpica da Rocinha e o teleférico do Alemão são ilusões da minha cabeça (ou, se reais, obras puramente eleitoreiras, que não tem utilidade alguma). Que o Brasil andou pra trás, mas que apresenta índices positivos em todos os campos, o que se deve exclusivamente à administração do partido paulista, mas, mesmo assim, seu candidato se propôs a continuar os atuais projetos elaborados nos últimos dois mandatos (alguém entendeu?). Enfim, quando alguém encontrar lógica nisso tudo, me explique, porque eu sou burro.

-Isso também não me surpreende, mas também me deixou abismado. Vi scans da revista Veja de 1990 e 1991 deificando Ayrton Senna, uma na tentativa de assassinato que levou ao seu segundo título mundial, e na outra, com uma foto do piloto extenuado dentro do carro, depois de vencer o GP do Brasil de 91 apenas com a sexta marcha (ele tinha a primeira e a sexta, e foi assim só por 4 voltas, e não a corrida inteira como ficou marcado do imaginário popular, vencida porque o segundo colocado também estava se arrastando na pista com problemas, embora menos críticos). Não, ela não passou informação relevante alguma. Distorceu várias, na verdade, como coloquei nos parênteses. Apenas para construir a imagem de um heroi nacional, igual o banco que o patrocinava. Na época (o tempo, não a revista), eu obtinha informações sobre Fórmula 1 na Quatro Rodas, e nas ricas reportagens do Jornal do Brasil e da Faolha de São Paulo: tinha informação, você sabia quem era quem e o que estava acontecendo: não era preciso fantasiar realidades para torná-las interessantes ao público que buscava essas publicações. Ainda hoje existe gente que exerce o jornalismo (a arte de obter e divulgar informação), mas tem gente que há muito tempo confunde o que faz outro tipo de jornalismo (a arte de embrulhar o peixe na feira).

-Quase desloquei meu ombro direito jogando tênis no Wii Sports numa loja de informática enquanto fazia hora. Estou dolorido como se tivesse feito flexões durante o feriado. Apesar de manter o fôlego caminhando, a metade superior do meu corpo não aguenta nem o vídeo game mais :^P Pelo menos no Wii eu não preciso usar minha mão esquerda: jogando num joystick ou num teclado, ela doi em vários pontos como se eu a tivesse enfiado num moedor de carne. O que não falta pra mim é dor. Agora tenho uma dor na sola do pé esquerdo que me garante a minha dose de dor a cada passo. São tantos pontos, em tantos lugares, que não tem um segundo em que eu não sinta dor. É um exercício mental bastante construtivo ignorá-las ou fazê-las funcionar a meu favor, fazendo parte das minhas criações artísticas (desenhos, escritos, animações). Mas eu as trocaria por um plano de saúde :^P (quem sabe, agora que vamos entrar na era do comunismo e contra a acumulação de capital, se os planos vão deixar de assaltar a população).

-Por que diabos o Peixe Urbano fica me mandando promoções de moda feminina e clínicas de estética? Não que eu tenha muita disposição pra ficar comprando cupons de qualquer bobagem, mas isso irrita. Sifudê.

-Preciso esforço titânico para escrever sem usar parênteses (porque tenho dificuldade em encaixar todas as ideias de maneira coerente no corpo do texto) :^P

-Eu queria ter sido entrevistado no programa Irritando Fernanda Young. Teria sido uma entrevista muito irritante.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sinestesia

A melhor ideia que alguém já teve foi a de vincular música e imagem. O gênio anônimo deve ter nascido e morrido há dezenas de milhares de anos, pois a música tem sido parte de rituais sociais e religiosos desde que se tem notícia. E esses rituais são, via de regra, grandes representações teatrais, onde uma realidade mítica ou histórica é revivida diante de uma plateia - o princípio do teatro.

Entre culturas mais primitivas, as etapas das cerimônias xamânicas são marcadas por cânticos e batidas ritmados e repetitivos que induzem a um estado de transe ou êxtase (é comum nesses povos as lendas de xamãs que são transportados de uma parte a outra do mundo sobre um tambor voador). No teatro grego, uma parte fundamental de qualquer montagem era o coro. Os atores do coral eram paramentados de acordo com a sua função na peça, e estabeleciam, por texto e música, uma ligação entre a plateia e o íntimo dos personagens, uma espécie de consciência coletiva. No medievo europeu, a música sacra elevava as cerimônias religiosa a um nível quase divino, adequado à função das missas de recriar a história de Jesus e dos santos.

Mas, ah, o cinema. Talvez nenhuma outra manifestação artística una tão bem representação teatral e música. Mesmo na época dos filmes mudos, as melhores salas de cinema contavam com um pianista que executava as peças compostas para cada filme. Os mais geniais daquele tempo, como Charlie Chaplin (que compunha as músicas de seus filmes) marcavam os temas musicais de acordo com as cenas, e as emoções que elas deveriam transmitir ao público. A música então passou a ser usada como um veículo de amplificação das emoções, uma forma de trazer a audiência para dentro do filme, e devolvê-la ao seu lugar a cada fade out.

Outro universo, que o gênio pré-histórico provavelmente nunca chegou a visualizar, onde a música tem sido usada com um sucesso espetacular, são os video games. Os games contam histórias e convidam o jogador a participar delas, alguns em maior ou menor grau, e a música é elemento essencial para manter a atenção presa à tela. Ela chega a influenciar o julgamento que o jogador tem do jogo: muitos jogos bem produzidos acabam esquecidos ou rejeitados por causa de músicas ruins ou inadequadas (já pensou como seria jogar Doom com a música do Bobby Is Going Home?), enquanto outros jogos tecnicamente fracos acabam ganhando mais fãs do que deveriam por causa de temas musicais magníficos. Hoje em dia, em que games deixaram de ser brinquedo de crianças nerds e tetudas, as suas músicas tem ganhado mais espaço, e seus compositores tem sido mais respeitados e valorizados.

Eu não sou um grande fã de música. De fato, eu só ouço música quando não tenho mais o que fazer, porque me cérebro é pequeno, e eu não consigo me concentrar em qualquer tarefa se alguém estiver cantando na minha orelha. De maneira geral, não me despertam qualquer emoção: elas batem no meu ouvido e voltam. Mas as músicas do cinema e dos games, para essas eu me levanto para aplaudir. Esses dias baixei um mp3 num site vietnamita (!) da homenagem feita às músicas de grandes filmes na cerimônia do Oscar de 2002. São cerca de 4 minutos e meio de pequenos trechos mixados. Como é mp3, eu não tenho o clipe à vista, mas as imagens não são necessárias: as músicas, mesmo em trechos de poucos segundos, trazem em si toda a emoção dos filmes e das cenas para os quais elas foram compostas, e às quais elas estão eternamente associadas. Ouvir uma obra desse tipo é uma experiência sinestésica: a música adquire uma imagem e uma emoção, que também é sua.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

1968: O ano que acabou em meia nove

Andar pelas ruas nos últimos dias tem sido um aborrecimento. Não apenas porque acho que estourou alguma veia no meu pé esquerdo, que doi como se eu tivesse levado umas pauladas, mas também porque tenho que testemunhar a degradante disputa eleitoral, por meio de bandeiras, cartazes, militantes espalhando mentiras sobre o candidato rival e o seu próprio, jornais de uma certa corporação e revistas de uma certa editora demonizando a candidata que lidera as pesquisas. Não é nada divertido.

No dia da eleição, no primeiro turno, por acaso uma Veja daquela semana caiu nas minhas mãos. Eu nunca leio a Veja. Na verdade, ela não merece nem que eu a use para limpar a minha bunda (além do papel ser daquele que espalha ao invés de absorver... enfim). Mas caiu na minha mão, e eu tive coragem de ler. A avaliação das propostas dos principais candidatos foi cômica. Em 10 quesitos, o candidato apoiado pela editora teve avaliação ótima na maioria, enquanto a candidata do governo (cuja caricatura apresentava as mãos sujas... de petróleo, eu suponho) estava quase tudo no vermelho. Algumas páginas depois, uma matéria inteira de como a candidata petista se vestia mal. Até isso usaram para tentar virar o jogo na última hora. Até que deu certo, pois veio então o segundo turno.

Essa semana, na terça, ouvi no rádio (CBN, a rádio que só toca o que o corpo editorial da Globo quer) que uma pesquisa do Vox Populi apontava uma diferença significativa entre os dois candidatos, com uma vantagem de cerca de 12 pontos da líder para o segundo. Na mesma chamada, sugestões de que o instituto de pesquisa é ligado ao PT, e que a pesquisa era falsa, e até entrevistaram uma vossa excelência do partido rival cumprindo o seu papel de "democrata" dando sua opinião a respeito. Ontem saiu a pesquisa do IBOPE, encomendada pelos ilustres proprietários da mansão do Cosme Velho, apontando para a mesma tendência. FAIL.

Essa semana, o candidato do partido de São Paulo foi até um bairro lá perto de casa, e foi hospitalizado após ser atingido por uma bolinha de papel na careca. Hoje, o jornalão da emissora do Jardim Botânico tem duas matérias na capa: uma mostrando como, além de uma bolinha de papel, ele também foi atingido por um objeto tão duro e pesado quanto uma banana (um rolo de fita crepe, sei lá), e que por isso o comentário do presidente (tem que sobrar pra ele) foi desrespeitoso ou algo assim; a outra é sobre algum escândalo com um tesoureiro petista.

Mas quem é Paulo Preto? O Serra não conhece, mas sabe que é um homem honesto, então pra que falar nisso? Vamos falar da Erenice que é melhor.

Eu nem culpo a grande imprensa de criar os maiores escândalos da história do país toda semana, afinal, eles precisam chamar a atenção para vender seu produto (o jornalista honesto, hoje em dia, ou está em jornais de pequena circulação, ou está lotado em alguma revista de decoração de interiores). A Veja fazia o mesmo na época da Ditadura (O Globo não :^P), na época do Sarney, do Collor (que a revista, antes das eleições de 1989, qualificava como uma espécie de super herói alagoano), do FHC, e tem se deliciado com o Lula, que, segundo alguns dos seus articulistas, mesmo depois de 8 anos, ainda está tentando implementar uma ditadura comunista no Brasil. É o revolucionário comunista mais incompetente da história, então.

Me pergunto se era essa democracia que os que deram o sangue, seu e dos seus familiares (alguns até hoje desaparecidos) na luta contra a ditadura militar esperavam. Se for, era preferível que os milicos tivessem passado os tanques por cima deles logo. Porque o que está aí só me envergonha.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Não para, não para, não para, não para não

Continuo a pleno vapor. Trabalho todo dia, em casa e no Museu, passei dois dias em São Paulo (depois de alguma peregrinação para conseguir embarcar, algo em torno de 8 horas de atraso em relação ao que eu planejava), enquanto cooriento 2 alunas da minha chefe e dou uma mão a uma terceira, enquanto ela viaja, aulas de latim às quartas, e preparo uma palestra sobre estrutura e função de jogos para alunos universitários de TI, e retomo o conto que deixei pela metade há alguns anos (essa metade fica na págna 186 do documento).

Ufa!

Só falta sair um projeto junto ao CNPq, e disponibilizar uma bolsa de doutorado sanduiche entre UFRJ e Museu de História Natural de Paris. Aí eu pego o avião e me vou. Nem que eu tenha que me comunicar com eles em latim. Isso, se eu não for aprovado no concurso do MPU que prestei e fui bem há algumas semanas, ou então se sair um dos dois ou três projetos que também estão em processo de avaliação, dos quais faço parte. O que quer que aconteça (desde que um dos tiros acerte o alvo), receberei mais, e providenciarei meu casamento.

Ufa!

P.S.: quem estudou na UFRJ durante o governo FHC não pode votar no PSDB. Fikdik.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Chico Xavier de pobre.

Trabalhando sem parar há duas semanas (seja em casa, seja no Museu). Ainda assim, conseguiu um tempo para rever um conto que eu estava escrevendo e parei há alguns anos (na página 182... mais ou menos chegando à metade da história :^P). Fiquei feliz de reler o texto original e não me sentir constrangido, como geralmente acontece com coisas que eu escrevi, em outros momentos, e com outros estados de espírito, e propósitos específicos. Há passagens até que parece que nem fui eu que escrevi!

Eu sento para escrever quando as palavras extravasam de dentro de mim. Quando estou refletindo, como faço quando escrevo aqui, ou quando tenho que escrever uma redação dissertativa, faço com alguma naturalidade, registrando no papel (ou na tela) a sequência lógica e encadeada em que tento organizar minhas opiniões. Mas quando escrevo ficção ou poesia, a coisa é muito diferente. Não consigo escrever uma palavra sequer, se eu me vir obrigado a isso. "Escreva uma história aí sobre um cara que foi à praia e viu um velho cair da bicicleta". FAIL.

Quando escrevo esse tipo de coisa, algo especial está acontecendo. No caso da ficção, é como se eu estivesse mentalmente assistindo a um filme ou desenho animado, cujas ações se desenrolam em cenários, poses e tomadas que surgem quase independentemente, e o que eu procuro fazer é registrar o que eu "vejo" da melhor forma possível, aí sim, floreando e emendando trechos que não formavam uma sequência narrativa decente de acordo com a necessidade. Nessa parte "consciente" do escrever é onde entram as influências daquilo tudo que eu leio, do estilo dos romancistas aos temas dos filósofos e cientistas que eu estou sempre lendo, enriquecendo descrições, ações e diálogos. Mas a matriz de tudo é esse "filme" ou o que quer que seja, que parece nem vir de mim, como se eu apenas estivesse assistindo algo que estivesse sendo exibido para mim. Uma espécie de Chico Xavier de pobre, só que sem mortos.

Todo homem deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Como já plantei muitas árvores, e prevejo um filho para os próximos dois anos, escrever um livro parece a meta mais distante (publicações científicas em forma de capítulo de livro não contam :^P)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ficha limpa pra que, se orelhão só funciona com cartão?

Ontem acompanhei pela internet a votação dos ministros do Supremo Tribunal Federal sobre a aplicabilidade da lei da Ficha Limpa ainda nessas eleições. Após o empate, eu tive a reação natural de qualquer cidadão que sabe que está sendo lesado por quem deveria zelar pelos seus direitos. Mas num segundo momento, parei pra pensar.

A Lei da Ficha Limpa, que eu tenha entendido, prevê que candidatos com antecedentes criminais se tornarão inelegíveis. É uma lei que protege a sociedade de ser governada ou legislada por pessoas de moral duvidosa e índole questionável, ou, ao menos, que apresentem indícios dessas características em sua vida pregressa. Houve muita discussão nos últimos meses sobre a retroatividade dessa lei, se ela teria efeito sobre condenações ocorridas anteriores à sua promulgação, ou se só valeria para crimes praticados após a sua publicação (como prevê a Constituição de 1988).

Trocando em miúdos, é uma lei feita para proteger o eleitor do perigo de eleger um bandido. Isso me leva a pensar... não seria essa uma lei feita para proteger o eleitor do próprio eleitor? Não estaria esta lei, ao vedar a elegibilidade de bandidos, fazendo pelo eleitor o que o eleitor deveria fazer a priori, ou seja, não votar em ladrões? Seria uma doutrinação de cima para baixo de como se deve escolher um candidato?

Lógico que essa lei será utilíssima, quando enfim conseguirem coloca-la em prática. Pelo menos nos priva do perigo de sermos assaltados por Garotinhos (o mais recente condenado da parada, dois anos e meio por crime eleitoral) da vida e outros delinquentes, em quem o povão adora votar por qualquer motivo idiota. Por outro lado, não está contribuindo com algo que deveria ser a pedra fundamental de um sistema democrático e que no Brasil não existe, que é o desenvolvimento de uma consciência política e social. A manada de jumentos que faz fila nas sessões eleitorais continuará a ser massa de manobra em potencial de canalhas que, por esperteza ou pesada influência pessoal ou familiar, calharam de manter sua ficha limpa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bolsa de homem

Já vi muitas mulheres abrirem a bolsa para mostrar o que existe nesse misterioso receptáculo, aparentemente infinito, que é a bolsa de uma mulher. Então vou abrir a minha.

Minha bolsa tem 5 compartimentos: um na aba que a fecha, um atrás, dois estreitos por dentro e um principal, mais espaçoso. Além disso, na parte da frente, tem vários bolsinhos. A parte de trás está vazia, porque fica batendo na minha perna, e nada sobreviveria ali a uma ou duas viagens.

No bolso da aba:
-Carteira (além de uma nota de 2 reais, tem tanta coisa pitoresca nela que mereceria um post à parte :^P)
-Moedeiro (quem anda de ônibus dá valor às suas moedas)
-Regarregador de pilhas
-Caneta Bic preta (fazendo a experiência de preservar uma Bic, já que quando você se destrai, elas caem numa fenda interdimensional, e você nunca encontra quando precisa)
-Borracha preta (meu charme)

Nos bolsos internos, o mais externo e menor é fechado com um zipper:
-Recarregador de celular (que anda no meu bolso)
-Chaves de casa+chaveiro (uma peça de Trix e um chaveiro do Cirque du Soleil)
-Caneta azul que alguém perdeu no cinema

No bolso do meio:
-MP3+pen drive de 1GB
-Fone de ouvido (tem microfone, o plug vermelho fica pendurado... ficaria no meu pc se não tivesse sido tão barato)

No compartimento principal:
-Caderno de desenho (uma forma civilizada de levar papel comigo, ao contrário do saco plástico com folhas velhas e amareladas de rascunho que alguém iria jogar fora que eu carregava)
-Lapiseira (dentro do caderno, que amortece todos os impactos e não destroi o grafite)
-Saco plástico com meu almoço (um pão com queijo, um com maionese, e uma maçã)
-Saco plástico vazio (a necessidade pode surgir a qualquer momento)
-Guarda chuva (enferrujado)

Nos bolsinhos na frente:
-Uma pilha recarregável (a outra fica no MP3)
-Saquinho plástico com 5 camisinhas (prefiro levar sempre comigo do que deixar em casa à mercê de constrangimentos)
-Dinheiro secreto (sempre aparente ter menos do que você tem)

Infelizmente não levo mais comigo meu canivete, me sinto desarmado sem ele (não que eu vá me meter em lutas corpo a corpo por aí, mas todo botânico precisa de um instrumento cortante à mão, caso pinte um material interessante que possa ser coletado... principal motivo para o saco plástico vazio, por sinal)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Em quem votar?

Votar é complicado. Os políticos fazem acreditar que é simplérrimo, que o eleitor só precisa memorizar um número e reproduzi-lo na maquininha que faz tililililim. Por "políticos" entenda-se, também o TSE, já que o judiciário convive em simbiose com a classe política, especialmente um tribunal específico para reger as eleições.

Mas é tão complicado. Cada cargo eletivo tem uma série de atribuições e funções, e jurisdições bem definidas. Nesta eleição serão 6 votos ao todo, para cinco cargos diferentes, cada um com suas próprias funções e jurisdições. Então, a primeira coisa que o eleitor precisa ter em mente é quem faz o que.

Primeiro FAIL. Exceto uns e outros, a imensa maioria não faz ideia do que faz um deputado estadual, ou sequer sabe que existe uma assembleia legislativa no seu estado. Tanto que, onde eu trabalho, em meio a gente com curso superior e pós graduação, ou seja, gente instruída (pelo menos em ciências) não sabe distinguir, mesmo entre nomes muito conhecidos, se fulano é deputado federal, estadual, ou senador. Alguns até confundem o prefeito com o governador. Ou o que o presidente faz (ou melhor, o que ele não faz, porque a maioria pensa no presidente como uma espécie de monarca absolutista, que toma todas as decisões sobre todas as áreas em todas as esferas da administração pública).

Digamos que 14 pessoas neste país conheçam as atribuições de cada cargo. O próximo passo é definir o perfil do seu candidato. Para isso, a pessoa deve ter uma mínima consciência da realidade do país, do estado, ou do município, quais as necessidades, as urgências. Também, escolher, dentre todas, quais as prioridades que um candidato deve ter em seu mandato, já que ninguém consegue fazer tudo, e com tantas vagas no legislativo, os eleitos podem se dar ao luxo de se especializar em áreas pouco cobertas pelos demais, e, se lhes interessar, fazer disso sua bandeira.

Segundo FAIL. A maioria das pessoas, que acham que é o presidente que precisa mandar colocar mais ônibus no seu bairro, usualmente são consumidoras do lixo da imprensa. A maior parte do que é publicado nos jornais mais vendidos, pelo menos aqui no Rio, resume-se a quem matou quem, quem traiu quem, a foto da bunda da última gordona a ser chamada de "mulher-fruta", os próximos capítulos da novela, e as notícias do futebol. Esse é o perfil do eleitor médio, suas preocupações, seu alcance de informação, suas prioridades. Porque política é chato, e de problemas já bastam os delas.

Digamos que 6 pessoas saibam para o que estão votando, e tenham bem definido um perfil para os seus candidatos, tendo em mente preocupações individuais e coletivas. É preciso então conferir as propostas, os programas de governo. São muitos candidatos, mas, pelo menos, os dos mais conhecidos, ou daqueles que o eleitor já tem alguma simpatia ou preferência, enfim, alvos em potencial dos seus votos.

Terceiro FAIL. Até uns dias atrás, em plena efervescência da campanha, já com o horário eleitoral rolando na TV e no rádio e todo esse teatro de dociês, acusações e escândalos, em boa parte fomentados pela própria imprensa (que vende suas novelas da vida real para o público médio, que eu descrevi há pouco, sejam verdadeiras, relevantes, ou não), os dois principais candidatos à presidência não haviam divulgado a versão definitiva de seus programas de governo. Uma havia publicado na internet uma versão provisória (a sétima ou oitava versão) do seu programa, enquanto seu rival havia publicado apenas uma sinopse (aquela coisa de "vamos mudar este país", blabla). Não obstante, eram (e ainda são) os candidatos preferidos do eleitorado, que oscila entre um e outro desde o lançamento das respectivas candidaturas, o que mostra que pelo menos uns 70% dos eleitores sequer se importam com o que o candidato pretende fazer.

Digamos que tenha sobrado só eu. Eu sei (não é uma coisa que se diga "minha nossa, ele é um expert em cargos eletivos do poder executivo e do legislativo", mas quebro o galho) o que cada cargo faz, tenho definido o que eu acho mais importante para a melhoria do bem estar meu e do lugar onde eu vivo (e das pessoas que estão nele), e tive acesso, embora improvável, às propostas dos candidatos.

Quarto FAIL. Por exemplo, para presidente, eu faço duas perguntas, para selecionar o candidato que eu acho que vá se empenhar naquilo que eu considero importante: Primeira, "quais candidatos tem uma agenda comprometida com a conservação ambiental, reforma agrária, desenvolvimento sustentável, programas de desenvolvimento econômico e social, rural e urbano, nos três setores da economia, de médio e longo prazos, que inclua um progresso técnico e científico que supra as necessidades para esse desenvolvimento?". Sobra uma candidata. Segunda pergunta: "Quais candidatos acreditam que o planeta Terra existe há mais de 6 mil anos, requisito de alguém que demonstre conhecimento técnico para executar tais projetos de maneira eficaz?". Não sobra ninguém :^P

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pergaminhos, ping pong, Tony Ramos, e egoísmo

Hoje sonhei que, por um motivo que eu não entendia, precisava recolher sete pergaminhos e sete runas, que me dariam plenos poderes para realizar um único ato normalmente impossível. Consegui recolher os pergaminhos (que pareciam mais guardanapos velhos com manchas antigas de sangue o.O) e encontrar seis runas (pedrinhas com letras nórdicas ou algo parecido). Era preciso encontrar a sétima, senão de nada adiantaria, para o que quer que fosse o motivo de eu estar reunindo esses artefatos.

Descobri que a mãe de Matahachi (é que eu estou lendo Musashi atualmente :^P) havia escondido uma runa, acreditando que só ela seria o suficiente para lhe dar algum poder, que ela pretendia usar para algum motivo mesquinho (bem a personagem do livro). Enquanto isso, eu procurava a mulher e a runa, e cheguei a um lugar, uma espécie de condomínio ou vila, porém com a aparência de um antigo bairro comercial, como onde eu trabalho, mas sem a agitação do trânsito. Havia uma escola, algum comércio, um hospital, um centro comunitário, e casas bem antigas, pequenas e geminadas.

Na entrada desse "condomínio", havia um jardim com arbustos altos, e vi uma mesa de ping pong. Havia uma menina de talvez 10 anos de idade, que chegava na mesa e batia numa bolinha. Ela estava sozinha, então a bolinha ia na minha direção, e eu jogava de volta. Ela fez isso umas três vezes, talvez se divertindo comigo ali jogando a bolinha pra ela. Então ela veio até mim e pediu para usar uma espécie de rede com uma armação circular e uma haste, que parecia uma raquete, e também uma espécie de colher vazada de madeira, que, aparentemente, eram instrumentos adequados para procurar uma runa perdida. Recusei, dizendo que ela não conseguiria jogar ping pong com essas coisas.

Continuando a busca, cheguei ao hospital do lugar, também com cara de hospital público de 30 anos atrás. Num elevador, estava a mãe de Matahachi, abatida e desapontada porque, provavelmente, descobriu que a runa, sozinha, não servia de nada. Ela me entregou a peça, e eu novamente me perguntei o que eu deveria fazer com aquilo. Foi quando descobri que, naquele mesmo hospital, a esposa do Tony Ramos havia acabado de falecer, e eu entendi que tudo isso era para que eu pudesse curar a sua doença.

No final tudo se transformou em video game: eu controlava um boneco que andava pelo hospital como se fosse uma fase de Super Mario, com homenzinhos que o perseguiam :^P

Tirando o final nonsense, me parece uma afirmação de que o egoísmo pode espalhar uma onda de prejuízos ao redor de uma pessoa (com a extensão dos danos a pessoas e situações indiretamente relacionadas, como a pessoa a quem eu deveria ter ajudado), sem necessariamente trazer-lhe algum benefício. Eu pessoalmente acredito que o egoísmo é inerente a todo ser vivo, mesmo entre os seres sociais. Mas já que somos providos de intelecto e raciocínio sofisticados, temos a capacidade de ponderar se devemos ser egoístas, avaliando o quanto podemos prejudicar alguém com uma atitude, e o quanto esse prejuízo pode, até, nos afetar no futuro. Passei esse começo de dia pensando nisso.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Estimulação russa

Enquanto sentava aguardando a minha vez na sala de espera do consultório da dentista, olho através da vidraça, do outro lado do corredor, uma lista de serviços e tratamentos oferecidos por uma clínica de estética, e um deles me chama a atenção: "ESTIMULAÇÃO RUSSA". Nem preciso dizer o quanto eu ri sozinho imaginando que diabos é isso. Imaginei que você seria colocado seminu, sozinho, numa sala à meia luz, e viesse uma massagista russa do tamanho de um gorila chamada Olga, estalando os dedos, e dizendo com a voz terna e suave que seria peculiar ao Átila, o Huno: "E aê, qual vai ser?". Esse deve ser do bom.

Amanhã, prova de concurso, um concurso para biólogo, e um que não exige conhecimentos mais do que básicos em microbiologia, genética, fisiologia e bioquímica, pzra variar, o que me dá motivos para ficar otimista. Não estou ansioso, mas mais curioso para ver como será a prova e como eu vou me sair. Estivesse tenso, estressado, com problemas para dormir e me concentrar, eu teria saído da dentista e atravessado o corredor para uma estimulação russa.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pé de que? Ninguém sabe.

Ah, nada como um pneu furado no seu ônibus logo pela manhã, no dia que corresponde à segunda feira desta semana :^P

Uma manhã de ventanias e chuvas inesperadas em alguns pontos da cidade, segundo os meus informantes. Pelo menos, a chuva chegou, porque temperaturas de verão e pluviosidade de inverno é foda.

Falando em clima, por algum motivo, as amoreiras do Rio de Janeiro estão particularmente carregadas este ano. Não que estejam cheeeias de amoras, porque o clima carioca não permite, mas estão produzindo muito mais amoras do que de costume. Inclusive, eu mudo meu caminho a pé para o trabalho, pegando uma rua que sobe um morro, só pra passar por uma amoreira que cresce por ali e catar duas ou três amoras.

Aliás, estou convencido de que os cariocas não conhecem amoras. Vejo os nativos tacando pedras em mangueiras ao menor sinal de mangas em estágios precoces de desenvolvimento, só para dar umas lambidas na polpa azedíssima de mangas verdes, às quais jogam fora logo em seguida, e no entanto, mesmo as amoreiras plantadas em lugares movimentados, como calçadas ou próximo a pontos de ônibus sempre tem amorinhas pretinhas penduradas. Ninguém come porque, primeiro, não sabem identificar a planta (e, por isso, nem prestam atenção), e, segundo, porque possivelmente não sabem que porrinha preta é aquela. Nem minha mãe, que conhece as amoreiras portentosas da sua cidade natal, percebeu que no caminho entre a nossa casa, onde moramos há 5 anos e meio, e o ponto de ônibus existem 4 pés.

Uma vez escrevi no meu blog antigo, dissolvido e retornado ao Tao a essa altura, que o desconhecimento do que pode ou não ser comido é uma tragédia. Seria só um "facepalm" cultural, se não vivêssemos num país onde tanta gente ainda vive no limite da segurança alimentar, sobretudo moradores de ruas e áreas carentes das grandes cidades, e também se não fosse algo tão simples de ser resolvido. Porque a arborização urbana, falando especificamente do Rio de Janeiro, é abundantemente composta de árvores produtoras de frutos ou sementes comestíveis, não apenas saborosas, mas altamente nutritivas. Amendoeiras-da-praia, cuja polpa doce é comestível (das amêndoas de polpa branca, as rosadas são muito amargas) e cujas sementes também podem ser consumidas, assim como as sementes do chichá e das castanheiras-do-maranhão, sem falar nos jamelões, cujos frutos mancham as calçadas de preto, dos pequenos figos vermelhos da Ficus clusiifolia, que eu considero mais saborosos do que os figos comerciais, e dos tamarindos que caem de maduro nas praças, prontos para serem consumidos. Além das amoreiras, que permanecem praticamente intactas, largadas à avidez sem paladar dos pássaros.

Não é uma lista muito grande, mas todas estão entre as árvores mais cultivadas em espaços públicos na cidade, cujos frutos e sementes são pisoteados ou deixados aos animais, enquanto moradores de rua vasculham lixeiras à procura de algo orgânico que possam engolir, e gastam o pouco que tem com biscoitos. E, para muitas famílias carentes, uma árvore dessas, ou mesmo uma pequena horta no seu quintal ou na sua rua poderia aliviar a fome, ou remover um pouco do orçamento para a compra de alimento para ser gasto com outras coisas, até com o tão ambicionado conforto dos bens de consumo, sem tanto prejuízo para o bolso.

O que é preciso para ensinar essa gente?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Latim

Feriado, 7 de setembro. Já foi um feriado cívico, onde pessoas pretensamente patriotas fingiam exibir um orgulho que não sentiam por um país com o qual não se importavam enquanto não lhes oferecesse vantagens ou benefícios. A hipocrisia decresceu nas últimas décadas, mas infelizmente o patriotismo (que, felizmente, é algo bem diferente de nacionalismo) não melhorou. Pelo menos não se finge mais com tanto empenho...

Feriado é dia de internerds vazia, almoços melhor elaborados, máquinas das obras paradas. É um dia ideal para estudar, se você é nerd como eu, ou tem dever de casa para entregar na quarta-feira. Estou fazendo curso de latim. Estudar uma língua morta seria vaidade, se o seu conhecimento não me desse acesso a obras científicas antigas, como a Flora Brasiliensis, e se, em trabalhos científicos, a diagnose de uma espécie nova não fosse, em muitos casos, ainda redigida em latim, bem como as notas escritas em espécimes coletados por naturalistas mais antigos ou eruditos e depositados em herbários, com os quais eu trabalho. Provavelmente não serei capaz de dialogar com um cardeal no Vaticano (onde o latim ainda é língua oficial usada na liturgia), mas terei o instrumental linguístico para complementar o meu trabalho e meus estudos.

Eu não tenho graaaande facilidade com línguas. Além do português, tenho leitura e escrita fluentes em inglês, leitura fluente em espanhol. Em ambos os casos, o que eu aprendi na escola teve muito menos peso do que a prática e a necessidade. Nos primeiros anos, a internet era quase toda em inglês, então sites, fóruns, grupos de discussão, na maioria das vezes, só eram acessíveis com um dicionário bilingue no colo. Aprendi inglês de verdade participando ativamente de chats e fóruns de discussão, mesmo com um inglês de Tarzan - lembrando que naquele tempo não existiam tradutores automáticos online. A observação e a identificação dos erros foi fundamental.

O espanhol eu já absorvi assistindo TV a cabo no tempo em que a programação das emissoras americanas para a América Latina era toda em castelhano. Além de ter a língua sempre acessível, pelo meu pai, alguns de seus parentes, e uma amiga chilena da minha mãe. E também não é tão diferente de português que seja ininteligível - de fato, linguísticamente, o castelhano e o português poderiam ser considerados dialetos de uma grande língua ibérica, já que a fronteira de ambos não é tão clara, quando se considera o galego um dialeto do espanhol, mesmo sendo ortograficamente e gramaticalmente tão mais parecido com o português que o galego precisa avisar que está escrevendo em galego para não pensarem que ele está apenas cometendo erros de português.

Embora, com alguma atenção, eu seja capaz de entender o que um italiano ou um francês querem dizer, e eu saiba xingar em 12 idiomas, latim será a terceira língua.

domingo, 5 de setembro de 2010

Em 2012, ninguém mais lerá isso

Eu sou uma pessoa low tech. Quando era garoto, entrando na adolescência, eu estava sempre por dentro das novidades da informática, graças ao meu pai, que resolveu investir na nossa própria "revolução tecnológica" no fim dos anos 80, trazendo para casa computadores modernos (um XT 286 com monitor verde), impressora (uma matricial da largura de um carro que imprimia formulário contínuo), softwares (Lotus 1,2,3, Print Master, joguinhos, e até um aplicativo que lia em "voz alta" o que se escrevia), e assessórios (um scanner de mão em preto e branco).

Com o tempo e a impossibilidade financeira de me manter atualizado, fui ficando para trás, e como tentar alcançar a ponta dessa corrida era inútil, basicamente perdi o interesse pela parte técnica da coisa.

Novamente, eu sou uma pessoa low tech. Não que eu seja uma toupeira na frente de um teclado, até sei um truque ou dois. Até consigo impressionar um ou outro usando atalhos no teclado quando se esperaria que eu levasse a seta do mouse até o menu para aplicar algum comando, mas perto de alguns dos meus amigos, isso é ridículo. A rapaziada que mexe com games, programação, e edição de imagens sempre tem máquinas poderosíssimas nas mãos, ou, pelo menos, muito melhores do que a minha. E eu, sinceramente, não me divirto nem um pouco abrindo códigos fonte, analizando dados, rodando anti vírus, mexendo em configurações, soldando capacitores, etc. Minha ferramenta favorita ainda é o martelo.

Meu computador tem 5 anos de idade, e quando eu o comprei, ele já era o basicão da época. Foi minha exigência que ele contivesse o mínimo possível de recursos, para não inflacionar o preço, até porque eu não via perspectiva de adquirir jogos que exigissem uma configuração mais poderosa, e a máquina ficaria em grande parte ociosa.

Um computador de 5 anos de idade não é mais aquele menino sapeca que sai correndo toda vez que você liga. É um senhor idoso, que qualquer probleminha de depressão pode desencadear falhas em vários sistemas. Desde garoto eu dependi de PCs por mais tempo do que o recomendado, e sem todo o cuidado necessário para mantê-los em bom funcionamento. Sempre foi uma quebradeira. Naturalmente, olhando o que os técnicos faziam, tanto em soft como em hardware, alguma coisa eu aprendi, bem como a observar sintomas para descobrir o que está errado. No meu computador atual jé precisei trocar cooler da placa de vídeo, HD, dois mouses, duas fontes, e ainda coloquei e retirei uma placa SoundBlaster 16 antiquíssima (pq meu pc não tem entrada dos joysticks de antigamente).

Eu já estava planejando aposentar a máquina e comprar um notebook básico, para não ter que gastar mais dinheiro mantendo uma máquina obsoleta. Há meses, contudo, meu monitor apresentou problemas bizarros: a imagem aparecia, apagava, mudava de cor, se qualquer aviso. Abri o monitor e passei a fazê-lo funcionar com as próprias mãos, literalmente. Eu esperava que ele resistisse o suficiente até eu comprar o laptop, mas ontem quando liguei, ele deu uns estalos, e tudo que aparecia era uma faixa de luz, com raios em volta. Tive que comprar um novo. E resolvi que, ao invés do note, meu próximo investimento será em uma nova placa mãe+memória+processador, e começar uma vida nova com meu pc híbrido.

Mas eu confio que, um dia, poderei trabalhar e me divertir sem a dependência de uma máquina. Por isso, faço votos para que em 2012 haja um colapso civilizacional e o mundo se torne algo parecido com Mad Max.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O psicopata mora ao lado

Li Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva. Fala sobre psicopatas: quem são, o que são, o que os caracteriza, como reconhecê-los, como lidar com eles, e como evitá-los. Quase todos pensamos que psicopatas são esses tipos loucões dos filmes, com serras elétricas e focinheiras. Mas geralmente, é aquele seu tio legal que não trabalhava, pedia dinheiro emprestado ao seu pai, nunca pagava, mas sempre tinha um eletrodoméstico novo em casa, ou aquele seu colega de trabalho que foi contratado outro dia, que nem é lá muito competente, mas que passou por cima de metade da empresa e hoje é seu supervisor. Ou, claro, o cara da focinheira.

A jogada dos psicopatas é que eles tem graves deficiências emocionais. Sendo incapazes de sentir felicidade ou tristeza (oscilando apenas entre a satisfação e a frustração, às quais reagem exageradamente), também não são capazes de se ligarem afetivamente a qualquer pessoa: toda relação que estabelecem tem um propósito e o objetivo de lhes trazer algum ganho. Como não se ligam afetivamente aos outros, são incapazes de sentir pelo outro, o que, para pessoas "normais", geralmente é o freio moral que limita as atitudes e nos induz a evitar de causar o mal a alguém. Sem esse freio, o psicopata não reluta em prejudicar quem quer que seja para obter alguma vantagem. São pessoas evasivas quando perguntadas sobre questões pessoais, como famílias, sonhos, sentimentos, porque geralmente não pensam sobre isso; porém, apresentam um ego exacerbado, gostam de se exibir, tentam se destacar no meio social como forma de obter uma ascendência sobre os demais, e exercer poder e controle. Não se ligando afetivamente a ninguém, são pessoas solitárias, embora possam ser, o centro das festas. Emocionalmente fracos, geralmente tem dificuldade em levar vidas normais, se submeter a rotinas, se estabelecer em empregos, se dedicar a tarefas intermediárias numa escala produtiva ou no staff de uma empresa, e isso leva a maioria a buscar alternativas ilícitas para obter o que querem: trambiques, furtos, extorções, chantagens, e até crimes mais violentos.

Porém, os psicopatas geralmente são inteligentes o suficiente para aprender os caminhos para se obter vantagem de outras pessoas: são conquistadores, sabem conversar, parecer agradáveis. Percebem rapidamente a fragilidade de alguém e oferecem o ombro amigo, no qual a pessoa deposita suas confidências, que o psicopata poderá usar em outra ocasião ("uma mão lava a outra", ou "você me deve essa" são motes típicos de quem oferece ajuda pensando no lucro que pode vir dessa relação, ou seja, o psicopata). Envolvem as pessoas e as mantém sempre por perto até que não precisem mais delas. Não farão nada por outra pessoa que não lhe seja proveitoso. E não se importam com a consequência dos seus atos, as quais, geralmente, eles já previram. São capazes de qualquer coisa. A dissimulação é a grande arte do psicopata: podem, se convir, chorar copiosamente diante de uma acusação para fazê-la parecer injusta, e, no momento seguinte, fazer um comentário debochado sobre outro assunto; podem explodir de raiva para intimidar e se colocar numa posição de controle num ambiente de trabalho, e em seguida amansar a voz para convencer um novo cliente de que está fazendo um grande negócio.

Psicopatas não são necessariamente violentos, e boa parte da violência não é cometida por psicopatas. Mas psicopatas sempre causarão danos a alguém, mesmo que isso nem lhes passe pela cabeça (a satisfação pessoal, no nível físico ou psíquico, é o que importa), e nunca se mostrarão arrependidos, exceto o arrependimento (a frustração, na verdade) de terem sido negligentes quando pegos pela justiça. Um psicopata violento, por outro lado, nunca deixará de praticar a violência, mesmo que a punição seja severa (o livro conta o caso de um assassino que, enquanto cumpria pena, matou mais de 40 detentos, porque isso lhe dava prazer... algo como o que ocorre com estupradores e pedófilos, e outros criminosos reincidentes sem qualquer relação aparente com a sua condição social).

A psicopatia pode se manifestar desde a infância, e não se sabe exatamente o que a causa: geralmente, quando as crianças já começam a tomar decisões próprias, podem apresentar alguns sintomas, como irritabilidade quando contrariadas, insensibilidade e violência repetida e cruel contra colegas e animais, mentiras compulsivas, dissimulação, não arrependimento pelos seus atos (um castigo pode ser recebido com uma promessa de vingança). E não existe meio conhecido de se reverter isso, de tornar uma criança psicopata em uma criança "normal", o mesmo ocorrendo com os adultos. Não existe "melhora", não se deve esperar que a pessoa mude, porque, para o psicopata, tudo está como deveria estar, e vocês (nós) é que precisam aprender a deixar de serem trouxas.

Enfim, muitas pessoas "normais" e "queridas", "acima de qualquer suspeita" são pessoas como essas. Provavelmente estão na sua vizinhança, no seu ambiente de trabalho, dentro do ônibus, esbarrando em você na rua (sem se desculpar), e até na sua família. Eu reconheci muitas pessoas enquanto lia o livro, entre conhecidos e famosos. É algo que dá medo, mas que, eu acho, já aprendi a neutralizar em alguns casos :^P

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Unanimidades

Ah, não há nada como o aroma de um PC travado numa manhã de segunda-feira.

Eu estive pensando, pensando em tantas coisas que eu esqueci o que estava pensando primeiro. É possível que tenha sido algo irrelevante sobre os gregos.

Ah sim, lembrei. Estava lendo e participando superficialmente de uma discussão sobre história antiga, quando o assunto se voltou para o destino dos principais políticos e generais gregos do período clássico. Várias das principais figuras gregas que tiveram atuações gloriosas no campo de combate e trouxeram grandes progressos para as pólis acabaram seus dias de maneira ignominiosa no esquecimento, no exílio, ou foram executados por traição pelos seus inimigos.

Gregos tinham seus heróis míticos, que fundamentavam e legitimavam as linhagens governantes e traziam identidade aos habitantes de cidades e regiões da Grécia. Eles, contudo, eram as únicas unanimidades a que os gregos se permitiam. Nem mesmo os deuses eram cultuados sempre da mesma forma e com a mesma importância em todos os lugares, embora existisse uma hierarquia mais ou menos definida entre as entidades do panteão helênico. Quando desciam para o que pensavam sobre os homens, os gregos eram pragmáticos: nenhum homem era perfeito, e todo homem era sucetível a falhas, como eram seus superegos, os próprios deuses, mas sem todos os poderes sobrenaturais que lhes permitia corrigir os erros.

Toda vez que uma personalidade (humana) adquiria prestígio demais, parece que um alarme soava entre a classe dominante de uma cidade, e logo um movimento oposicionista encaçapava o herói do povo da semana. Toda pessoa que se tornava muito popular se tornava uma ameaça à estabilidade do sistema, porque com poder demais nas mãos, qualquer um, falíveis como são os mortais, pode subverter a ordem e governar em proveito próprio. Era uma ideia tão abominável que mesmo os tiranos (cidadãos apontados por uma assembleia popular para governar, por um período determinado e em tempos de necessidade urgente, podendo tomar decisões administrativas e militares rápidas sem tanta burocracia) precisavam obedecer regras, e a submissão de uma cidade a outra mais poderosa era vista com tanto aviltamento quanto a escravidão (que, aliás, eles praticavam :^P).

Claro que os gregos não estavam preocupados com isso, pois um derrubava o outro para tentar, por sua vez, obter toda essa proeminência e um comando absoluto, e era derrubado antes de conseguir. Mas vamos trazer isso para nosso presente, um Brasil onde vivemos um sistema democrático (pelo menos, mais do que o da quase legendária democracia ateniense). Imagine que um governante atinja tal popularidade que qualquer coisa que ele diga ou faça seja aceito passivamente pela população de maneira que qualquer oposição seja sufocada antes de ser ouvida, nem necessariamente de maneira violenta, ou mesmo seja, visando sua própria sobrevivência política, convertida aos mesmos ideais de tal autoridade. Digamos que uma personalidade da TV particularmente cativante se torne tão popular que todas as suas atitudes sejam idealizadas e adotadas como padrões. Ou, mesmo, que um veículo de comunicação tenha a capacidade de atingir algo próximo dos 100% da população do país e veicule o que lhe interessar de uma forma que aquilo pareça razoável, aceitável, e até benéfico, mesmo que não seja, na prática.

Já pensou? Fim irônico.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

São tantas emoções, bicho

Acredito que o sucesso de qualquer obra de arte depende da maneira como ela afeta cada um, mais do que uma suposta qualidade intrínseca da obra. Uma grande obra é aquela que causa emoções, que faz o coração do observador vacilar e o seu racional se ausentar por alguns momentos, seja para o bem, para o mal, ou para o feio. E não apenas quando ela é apresentada, mas sempre que você entra em contato com ela. Deve ser como um carrinho de montanha russa, onde você entra e ele te leva por subidas e quedas inesperadas, e quando termina a volta, você sai e retorna ao seu rumo natural, mas sentindo algo diferente, talvez revigorado, talvez super estimulado, inspirado, mais sensível, mais desperto. E é capaz até de romper bloqueios, barreiras e preconceitos, como o meu pai, que odeia Roberto Carlos com todas as forças, mas não se esquece da música do Rei que tocava quando ele tirou minha mãe para dançar pela primeira vez.

Me ocorreu isso quando eu estava parado na Linha Amarela, ouvindo meu mp3, e quando tocou essa música, eu me senti fora dali, vislumbrando os cenários da nave Alisa III, sentindo a tensão antes da batalha, a realização do amor improvável, e um legado de sacrifício, que é o que essa música me diz:

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Expectativas, e morra, Microsoft

Google Chrome fuckyeah wins. Internet Exploder inerentemente FAIL. E o Mozilla Firefucks atual está acabando com o meu pc. Safari não dá pra avaliar, só experimentei num super iMac fuderoso onde até um Explorer pareceria decente.

A princípio, apresentarei palestra sobre video games num colégio amanhã, mas como isso já foi adiado e eles não entraram em contato comigo novamente, nada é certo. Eu preciso levar as coisas mais a sério, mas não consigo: em um dos slides da apresentação, enquanto eu falo dos prejuízos dos vídeo games, surge a foto de um bebê com uma camiseta nerd; então, quando termino a fala, viro para a tela e dou um tiro com o dedo, e a foto do bebê cai e sai de cena :^P

(a imagem de fundo desse slide é uma foto de um grupo de nerdz jogando Nintendo, com cara de que os cérebros já atrofiaram ou foram substituídos por palha ou essas coisas que os egípcios usavam para preencher as múmias)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Página em branco

Sexta feira, 10:10 da manhã. Como de costume numa repartição pública neste dia da semana, estou aqui sozinho, olhando para a "folha" em branco da caixa de texto da página de atualização do Blogger, pensando em algo que valha a pena escrever (afinal, isso aqui se chama Preto no Branco por algum motivo, e não é por causa de pornografia interracial :^P), enquanto descanso a mente da monotonia do banco de dados do Herbário, e tenho à esquerda uma exsicata de Bauhinia allemaniana aberta, coletada em meados do século XIX no Ceará, testemunha de que eu não estava à toa, pelo menos até agora.

Uma folha em branco é uma história que ainda não foi contada, uma ilustração que ainda não foi desenhada, cores que ainda não foram pintadas, ideias que ainda não foram discutidas. A folha em branco não é um vazio, mas sim um potencial, uma vacuidade que precisa ser preenchida para atingir o único objetivo para a qual foi feita. Em inglês, uma página em branco é uma "blank page", e "blank" é usado também como sinônimo de "vago", "vazio", como algo cuja existência é dispensável, desprezível, porque não possui conteúdo. Nem tudo que possui conteúdo é aproveitável, dentro do conceito de "utilidade" de cada um.

Lao Tse diz que para chegar à sabedoria da compreensão do Tao, é preciso que se abandone o apego ao conhecimento erudito, e que a pessoa seja como um vazio pronto para ser preenchido. Jesus usa outra abordagem para dizer a mesma coisa: o Reino de Deus pertence às crianças, cuja inocência não foi maculada pela perversidade do pensamento humano e de suas relações sociais; as crianças são como vacuidades, ou páginas em branco, prontas para serem preenchidas. O próprio nome "Lao Tse" significa "criança velha", pois seu espírito era como o de uma criança, mesmo no final da vida.

Um dia eu acreditei que sabedoria viria com conhecimento. Mas o apego ao conhecimento, à instrução formal, aos maneirismos talvez não passem de meras ferramentas para sobreviver à realidade material e proporcionar praticidade às relações humanas. Portanto, não são dispensáveis. Mas para chegar a ser um sábio, que possa caminhar com firmeza em seu próprio caminho com correção (porque mesmo um passo errado é um ensinamento que o sábio consegue apreender) e sem sofrimento (porque, embora não esteja apartado da dor, é possível escolher entre sofrer com ela ou não), é preciso desaprender muitas coisas que nos enrigessem, porque parecem absurdas, impossíveis ou impraticáveis à luz do racionalismo, mas ainda assim são necessárias para a compreensão maior de si, do outro, e de tudo que nos rodeia. É o "conhecimento do coração" do sábio chinês.

Tomara que Paul Rabbit não plageie mais essa :^P

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Desenhando no ônibus

Como eu viajo cerca de 5-6 horas, somando ida e volta, todas as vezes que eu tenho que trabalhar, eu procuro fazer alguma coisa para ocupar a mente e não transformar esse tempo em tempo perdido. Já tentei leitura (eu me disperso com muita facilidade), identificar árvore até pelo menos a família (algo que realmente ocupa o tempo quando se atravessa a Floresta da Tijuca), ouvir música (embora isso só mantenha os ouvidos ocupados), até mesmo elaborar projetos acadêmicos (todos, rejeitados). Mas meu passatempo favorito é o mais improvável e o mais trabalhoso de todos: desenhar.

Desenhar em qualquer veículo em movimento requer muita concentração e paciência. O balanço do veículo cria uma situação de stress que me obriga a buscar soluções para traçar um desenho firme e bem estruturado, contra as forças que impedem um trabalho fino e limpo. Some-se a isso uma deficiência no desenvolvimento das articulações das minhas mãos e pulsos, que naturalmente dificultaria qualquer desenho mais elaborado - pra se ter uma ideia, isso prejudica tanto a minha caligrafia que eu já decidi abandonar definitivamente a escrita cursiva, porque nem eu entendo o que escrevo. Mas mesmo com todas essas dificuldades, e mesmo não produzindo lá grandes coisas, eu ainda fico satisfeito quando ergo a lapiseira do papel e vejo isso:

Alis Landale correndo, desenhada num ônibus

Desenhar no ônibus é algo estranho e inesperado. Muita gente que se senta ao meu lado ou fica em pé perto de mim fica me observando. Como eu só as enxergo com a visão periférica, não sei se estão interessadas, se acham bonito, estranho, excêntrico, ou sei lá o que. Sei que muitas vezes o lugar ao meu lado é o último a ser ocupado, mas aí não sei se é porque acham que eu sou algum louquinho que fugiu da terapia ocupacional, ou porque minha bunda é grande, ou porque eu tenho caspa. Pode ser qualquer coisa, mas imagino que, pelo menos algumas vezes, seja por causa do desenho :^P

Mas uma coisa que eu reparo é que algumas pessoas parecem se admirar com o fato de alguém estar desenhando alguma coisa coerente naquele chacoalhar todo. A impressão que dá é que estes especificamente devem pensar "eu gostaria de poder fazer algo assim". Esses dias uma japinha, que dormiu a viagem toda, e quando acordou, dois pontos antes d'eu saltar, se espantou comigo finalizando um esboço, me perguntou se eu fazia curso ou dava aula de desenho, porque ela também desenhava, mas não se imaginava tentando fazer isso no ônibus. Hoje era um tiozão que não tirava os olhos, e dois irmãos pequenos indo para a escola com a mãe, comentando, como se eu, por estar com fones de ouvido, não estivesse percebendo nada (e fingi para não intimidá-los, só pra ver o que diriam :^P). Um senhor uma vez até puxou assunto, dizendo que o filho dele gostava de desenhar e se eu podia passar algum conselho.

A impressão que dá, muitas vezes, é que as pessoas nunca pensaram em, por exemplo, desenhar dentro de um ônibus, porque imaginam que isso é impossível ou que isto está além das suas habilidades. Gente, provavelmente, mais entendida no negócio, ou com mais aptidão física do que eu, que se nega o prazer de riscar um papel por acharem que não conseguirão fazer. E extendo a minha observação a pessoas com talento ou vontade que conheço por aí, e que sequer começam a praticar com medo de não produzirem uma obra do nível de um Rafael. Muita gente abandona seus sonhos e vive por inércia uma vida frustrante esperando algo milagroso cair do céu porque tem medo de tentar correr atrás deles. Se eu pensasse "eu gostaria de desenhar, mas não fiz curso e tenho a habilidade manual de uma criança de 4 anos, então isso é impossível pra mim", não só eu não desenharia dentro do ônibus, como não desenharia em circunstância alguma, e me privaria, permanentemente, de uma das atividades que mais me dão prazer, independente de ser num nível amador e iniciante, além de, como expressões do meu sub e inconscientes, me auxiliarem nas minhas ondas de auto análise. Não imagino como meu lado emocional poderia estar hoje se eu não encarasse o desafio.

Quando a japinha comentou que ela gostava de desenhar, mas não se imaginava desenhando num ônibus, eu me levantei para saltar e me despedi, dizendo: "se eu conseguir desenhar bem aqui dentro, eu vou conseguir desenhar bem em qualquer lugar". E segue o desafio.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Desliga essa pohacarai

O que precisa acontecer para que se faça valer a proibição estampada de forma bem clara nos ônibus contra aparelhos de som? A bronca é antiga, mas creio que qualquer um vai concordar: muitos donos de celulares com mp3, mp4, receptor de tv, de rádio, que seja, ouvem suas músicas ou whatever no volume máximo (claro, para vencer o ruído do ônibus), desrespeitando o direito ao silêncio de todos os outros passageiros.

Eu fico espantado como aparelhos de alta tecnologia estão acessíveis hoje em dia. Não faz quatro anos que adquiri meu celular atual, e ele nem sequer pode rodar aplicativos em java, nem baixar nada, nem tirar fotos, nem reproduzir mais do que alguns tons, e o teclado ainda parece aqueles paineis de elevadores antigos com botões que parecem balas, e hoje todo peão tem um celular touch screen com mp3, câmera e antena de TV. E não tem 5 reais para comprar uma porra de um fone de ouvido.

Se eu perguntar às pessoas dentro de um ônibus o que elas pensariam se eu acendesse um cigarro (que também é proibido, o sinal de "proibido fumar" está bem ao lado do de "proibido aparelhos de som"), tenho certeza de que a resposta será de veemente indignação. Mas qual é a diferença? Se alegassem "porque o cigarro faz mal à saúde" ninguém entraria em um ônibus com ar condicionado, ou um comum enquanto estiver chovendo, porque todos os agentes causadores de doenças respiratórias possíveis ficam presos lá dentro naquele ar viciado. Vejo aquelas janelas fechadas suando com o vapor do ar respirado coletivamente e me lembro da sopa orgânica primordial que deve ter originado a vida na Terra. Pra isso, ninguém liga.

Eu, particularmente, tenho medo de agir sozinho quando um sujeito saca o telefone e ouve seu pagodão no último volume, porque quem faz isso não se importa com ninguém, e é, by default, o tipo de pessoa que não hesitaria em reagir com violência. Enquanto ninguém se mobiliza para acabar com isso, eu pego meu mp3 que a namorada me deu, meu fone de ouvido de R$10,00 (porque não quero ser mais um como eles), último volume (para não ouvir o que eu não quero ouvir), e foda-se. Me chamem quando resolverem fazer alguma coisa.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

"Se eu não fosse Alexandre, eu gostaria de ser como Diógenes"

Ontem, o Fantástico passou uma reportagem sobre o uso de fotos e dados pessoais encontrados na itnernet para a realização de sequestros. Eu não vi, só fiquei sabendo porque o Galvão Bueno anunciou a reportagem, como esses velhos que tem medo de computador, durante a transmissão da corrida. Então, aviso logo e enfatizo que sou um assalariado, e a única herança a que eu tenho direito no momento são dívidas, então não é uma boa ideia me sequestrarem. A não ser que queiram pagar essas dívidas por mim. O que eu aceitaria de muito bom gosto, desde que não assumam o papel de credores.

Isso também vale para os meus stalkers, que, porventura, planejem estorquir-me para obter alguma vantagem (como se eu pudesse prover alguma, de qualquer tipo). Também não tem onde tirar.

Acho que o barato neste mundo é ser pobre e não dever dinheiro a pessoas físicas potencialmente violentas. Tirando a ameaça constante de ter seus bens leiloados e o perigo de não ter o que comer um dia ou outro, é uma vida bastante segura, que dá tempo para se preocupar em questões maiores e menos práticas. Por isso Diógenes, Buda, Mahavira, Jesus, e São Francisco de Assis alcançaram a paz em vida e a plenitude de sua existência.

Tá, agora eu fui irônico :^P

"Dinheiro não traz felicidade" é uma mentira inventada pelos ricos para manter os pobres sob controle.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Disciplinando os pais

Estava pensando sobre essa lei que criminaliza castigos físicos e torturas contra crianças por parte dos pais. A princípio eu acho ótimo. A violência contra os filhos é uma violência dupla, porque toda criança que sofre agressão por parte dos pais sofre o dano físico e também o emocional, porque aquelas são pessoas que se supunha serem as protetoras, das quais a criança, de início, nunca espera esse tipo de coisa. Um tapa na cara vindo de uma mãe é muito mais doloroso do que uma paulada que se leva de um moleque na rua. Além disso, a violência é o recurso dos brutos, que não sabem ou não querem dialogar, não se importam com o que os filhos sentem, não tem argumentos nem coerência, e só lhes resta a opção do espancamento, e esses sentirão (se Deus quiser, porque acreditar na justiça dos homens está difícil) os rigores da lei.

Contudo, como quase toda lei aprovada pelas vossas excelências, esta peca pela subjetividade dos seus preceitos. Ela prevê que qualquer puxão de orelha ou castigo que prive a criança de sua liberdade seja considerado crime. Isso supõe que o diálogo será suficiente para manter as crianças sob controle, disciplinadas e bem educadas o tempo inteiro.

A maioria dos adultos que eu conheço só tem recordações da infância a partir dos 6 anos ou mais, época em que a criança já está se enquadrando em padrões de comportamento social, e acha que é assim que funciona, naturalmente, a cabeça da criança. Mas eu lembro muito bem de fases bem precoces da minha infância, cuja memória mais antiga que eu tenho é do meu aniversário de 1 ano, e a coisa não é bem assim. Nessa fase que os adultos acham que as crianças são bobinhas é quando elas, inconscientemente, constroem grande parte dos seus conceitos, que, se elas não levarão até a fase adulta, servirão de substrato para esses outros que surgirão. E eu lembro bem, apesar de não ter sido vítima de violência doméstica (puxões, beliscões, ameaças, espancamento, esse tipo de coisa) e meus pais terem sempre procurando se comunicar comigo e demonstrar interesse, que eu era um "rebelde" em miniatura. Às vezes as coisas fugiam do controle, e eu levei uma ou outra chinelada bem merecida (minha irmã, que era mais hiperativa, teve que conviver com isso mais do que eu :^P). E essa lei jogaria meus pais na cadeia e me colocariam sob os cuidados do Conselho Tutelar.

Uma parte da educação de uma criança, levando em conta que ela está sendo formada para se tornar um ser social, é ensinar que cada lugar e situação tem seus limites, e que ultrapassá-los pode trazer consequências danosas. Mesmo com pais que conversam, ensinam e escutam, como os meus, esses limites, o proibido, é o que há de mais tentador para uma criança. Toda criança é curiosa e deseja explorar por si própria aquilo que ela suspeita que exista mas que não lhe é permitido ver. Uma forma de impor limites é o castigo, que pode variar desde uma chinelada até uma proibição, por exemplo, de andar de bicicleta, caso essa atividade esteja envolvida com a transgressão. O castigo faz parte da formação do ser social, porque quando ele chegar à fase adulta, ele continuará vivendo dentro de limites, cuja transgressão resultará em castigo, sob a forma da lei ou outras, como a transgressão de limites de conduta estabelecidos num círculo social qualquer (o casamento, por exemplo).

Talvez seria melhor se existisse um meio termo para os limites dessa lei. Mas, assim como ela é agora, esses limites seriam subjetivos, e sua interpretação mais ainda. O ideal mesmo é que os pais sejam realmente pais. Ou seja, que atuem como educadores, conselheiros, protetores, incentivadores. Que sejam, nas suas atitudes e opiniões, exemplos de integridade moral e coerência. Que estejam sempre abertos à comunicação e ao diálogo, para que a criança não se sinta coibida a esconder sobre sua intimidade ou mentir pelo medo do que possa acontecer, e se esforcem para entender o que os filhos pensam e sentem. Que sejam parceiros em que se possa confiar, para que sua outra função, como orientadores, possa ter efeito. E que não deixem para professores, artistas, vizinhos, parentes, aparelhos eletrônicos, celebridades de 15 minutos, e, até, outras crianças o papel de pais. E que não sejam meros provedores de bens materiais (porque comprar o amor de um filho é a outra alternativa dos brutos que eu citei no primeiro parágrafo, mas só quando eles tem dinheiro). As coisas feitas desse jeito não podem dar muito errado.

E que não trepem sem camisinha se não estiverem dispostos a tudo isso.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nutrição

Alguém tem um hobby ou mesmo uma atividade rotineira que gosta de fazer e da qual aprecia os resultados, mas tem dia que simplesmente não tem saco pra isso? Eu gosto de cozinhar, me empenho no tipo de comida que mais aprecio (carnes e frituras, algum doce também), e algumas coisas acho que faço como ninguém. Meu bife à milanesa e o meu pão de queijo, ou meu camarão ao molho de ervas, por exemplo. Incomparáveis.

Mas hoje eu daria qualquer coisa por uma pizza de telefone, um McDonald's, um pastel de feira, ou qualquer coisa pronta. Se tivesse alguém pra cozinhar pra mim, ótimo também :^P

Tenho até os ingredientes na geladeira para um dos meus achados mais recentes (uma versão do "polpetone" que o McDonald's serviu durante a Copa do Mundo, só que com sabor), mas dá trabalho, e eu não quero melecar as mãos, os pratos, as panelas. Se alguém estivesse aqui, eu até faria, gosto quando apreciam a minha comida tanto quanto eu gosto de apreciá-la eu mesmo. Mas como estou só eu, cortei duas batatas pra fritar (outra especialidade minha), pus um quibe congelado pra assar (feito em casa, não esses cocôs de supermercado) e estou esperando. Não pode dar errado.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Resenha - O Aventureiro, de Mika Waltari

Ontem terminei de ler O Aventureiro, do escritor finlandês Mika Waltari. O livro trata sobre Michael Pelzfuss, um finlandês bastardo que começa o livro criança logo após a morte dos pais, acolhido por uma curandeira de Abo, uma cidadezinha portuária da Finlândia do início do século XVI. É educado como cristão e sonha em ser padre, mas como seu nascimento ilegítimo impede a ordenação, sua aptidão para os estudos o direcionam para uma carreira acadêmica. Mete-se em apuros durante seus estudos na França, a serviço do rei Cristiano da Dinamarca, é apanhado pelo caos da Reforma Protestante na Alemanha e pelas intrigas da alta política européia, conhece o amor, a morte e o ódio, e jura de todas as formas ir a Roma para ver o papa Clemente cair sob seus pés.

O autor cruza o caminho de Michael com o de várias personalidades reais daquele tempo: o ambicioso rei Cristiano, o misterioso Paracelso, o excêntrico Erasmo de Roterdam, o Imperador Carlos da Alemanha, Martinho Lutero, Thomas Munster, Francisco Pizarro, o rei Francisco da França, e outros.

Waltari tem um estilo irreverente, embora ele não descambe para a comédia. Seu personagen é, digamos, um nerd que leva a vida e as instituições a sério e acredita na palavra e nas boas intenções das pessoas, o que sempre acaba levando-o a situações absurdas, cômicas e inesperadas. Geralmente, seu amigo Andy - um rapaz simples e de força sobrehumana - é quem o salva de grandes enrascadas, e permanece como seu protetor e contraponto ao seu pensamento, menos teórico e mais intuitivo. Mas o livro também traz o leitor para o lado mais escuro da humanidade, descrevendo os sofrimentos e horrores das vítimas da Inquisição e do fanatismo religioso, e a loucura da guerra, cujo auge é o terrível saque a Roma pelos exércitos do Sacro Imperador Carlos V. O enredo é composto desses altos e baixos que se alternam que jogam o espírito do leitor aos extremos de uma página a outra. A preocupação com a ambientação histórica, os hábitos e as regras de etiqueta tornam tudo crível, embora, muitas vezes, Michael (o próprio narrador) pareça mais um historiador detalhando acontecimentos distantes do que alguém registrando suas memórias. Mika Waltari adorava os pequenos épicos da História ocidental, e às vezes seus livros parecem mais veículos para recontá-los a seu próprio modo.

Leitura muito boa, ágil, com picos de tensão e descontração que excitam as emoções do leitor.
 
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