quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Em quem votar?

Votar é complicado. Os políticos fazem acreditar que é simplérrimo, que o eleitor só precisa memorizar um número e reproduzi-lo na maquininha que faz tililililim. Por "políticos" entenda-se, também o TSE, já que o judiciário convive em simbiose com a classe política, especialmente um tribunal específico para reger as eleições.

Mas é tão complicado. Cada cargo eletivo tem uma série de atribuições e funções, e jurisdições bem definidas. Nesta eleição serão 6 votos ao todo, para cinco cargos diferentes, cada um com suas próprias funções e jurisdições. Então, a primeira coisa que o eleitor precisa ter em mente é quem faz o que.

Primeiro FAIL. Exceto uns e outros, a imensa maioria não faz ideia do que faz um deputado estadual, ou sequer sabe que existe uma assembleia legislativa no seu estado. Tanto que, onde eu trabalho, em meio a gente com curso superior e pós graduação, ou seja, gente instruída (pelo menos em ciências) não sabe distinguir, mesmo entre nomes muito conhecidos, se fulano é deputado federal, estadual, ou senador. Alguns até confundem o prefeito com o governador. Ou o que o presidente faz (ou melhor, o que ele não faz, porque a maioria pensa no presidente como uma espécie de monarca absolutista, que toma todas as decisões sobre todas as áreas em todas as esferas da administração pública).

Digamos que 14 pessoas neste país conheçam as atribuições de cada cargo. O próximo passo é definir o perfil do seu candidato. Para isso, a pessoa deve ter uma mínima consciência da realidade do país, do estado, ou do município, quais as necessidades, as urgências. Também, escolher, dentre todas, quais as prioridades que um candidato deve ter em seu mandato, já que ninguém consegue fazer tudo, e com tantas vagas no legislativo, os eleitos podem se dar ao luxo de se especializar em áreas pouco cobertas pelos demais, e, se lhes interessar, fazer disso sua bandeira.

Segundo FAIL. A maioria das pessoas, que acham que é o presidente que precisa mandar colocar mais ônibus no seu bairro, usualmente são consumidoras do lixo da imprensa. A maior parte do que é publicado nos jornais mais vendidos, pelo menos aqui no Rio, resume-se a quem matou quem, quem traiu quem, a foto da bunda da última gordona a ser chamada de "mulher-fruta", os próximos capítulos da novela, e as notícias do futebol. Esse é o perfil do eleitor médio, suas preocupações, seu alcance de informação, suas prioridades. Porque política é chato, e de problemas já bastam os delas.

Digamos que 6 pessoas saibam para o que estão votando, e tenham bem definido um perfil para os seus candidatos, tendo em mente preocupações individuais e coletivas. É preciso então conferir as propostas, os programas de governo. São muitos candidatos, mas, pelo menos, os dos mais conhecidos, ou daqueles que o eleitor já tem alguma simpatia ou preferência, enfim, alvos em potencial dos seus votos.

Terceiro FAIL. Até uns dias atrás, em plena efervescência da campanha, já com o horário eleitoral rolando na TV e no rádio e todo esse teatro de dociês, acusações e escândalos, em boa parte fomentados pela própria imprensa (que vende suas novelas da vida real para o público médio, que eu descrevi há pouco, sejam verdadeiras, relevantes, ou não), os dois principais candidatos à presidência não haviam divulgado a versão definitiva de seus programas de governo. Uma havia publicado na internet uma versão provisória (a sétima ou oitava versão) do seu programa, enquanto seu rival havia publicado apenas uma sinopse (aquela coisa de "vamos mudar este país", blabla). Não obstante, eram (e ainda são) os candidatos preferidos do eleitorado, que oscila entre um e outro desde o lançamento das respectivas candidaturas, o que mostra que pelo menos uns 70% dos eleitores sequer se importam com o que o candidato pretende fazer.

Digamos que tenha sobrado só eu. Eu sei (não é uma coisa que se diga "minha nossa, ele é um expert em cargos eletivos do poder executivo e do legislativo", mas quebro o galho) o que cada cargo faz, tenho definido o que eu acho mais importante para a melhoria do bem estar meu e do lugar onde eu vivo (e das pessoas que estão nele), e tive acesso, embora improvável, às propostas dos candidatos.

Quarto FAIL. Por exemplo, para presidente, eu faço duas perguntas, para selecionar o candidato que eu acho que vá se empenhar naquilo que eu considero importante: Primeira, "quais candidatos tem uma agenda comprometida com a conservação ambiental, reforma agrária, desenvolvimento sustentável, programas de desenvolvimento econômico e social, rural e urbano, nos três setores da economia, de médio e longo prazos, que inclua um progresso técnico e científico que supra as necessidades para esse desenvolvimento?". Sobra uma candidata. Segunda pergunta: "Quais candidatos acreditam que o planeta Terra existe há mais de 6 mil anos, requisito de alguém que demonstre conhecimento técnico para executar tais projetos de maneira eficaz?". Não sobra ninguém :^P

Nenhum comentário:

 
eXTReMe Tracker