quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O psicopata mora ao lado

Li Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva. Fala sobre psicopatas: quem são, o que são, o que os caracteriza, como reconhecê-los, como lidar com eles, e como evitá-los. Quase todos pensamos que psicopatas são esses tipos loucões dos filmes, com serras elétricas e focinheiras. Mas geralmente, é aquele seu tio legal que não trabalhava, pedia dinheiro emprestado ao seu pai, nunca pagava, mas sempre tinha um eletrodoméstico novo em casa, ou aquele seu colega de trabalho que foi contratado outro dia, que nem é lá muito competente, mas que passou por cima de metade da empresa e hoje é seu supervisor. Ou, claro, o cara da focinheira.

A jogada dos psicopatas é que eles tem graves deficiências emocionais. Sendo incapazes de sentir felicidade ou tristeza (oscilando apenas entre a satisfação e a frustração, às quais reagem exageradamente), também não são capazes de se ligarem afetivamente a qualquer pessoa: toda relação que estabelecem tem um propósito e o objetivo de lhes trazer algum ganho. Como não se ligam afetivamente aos outros, são incapazes de sentir pelo outro, o que, para pessoas "normais", geralmente é o freio moral que limita as atitudes e nos induz a evitar de causar o mal a alguém. Sem esse freio, o psicopata não reluta em prejudicar quem quer que seja para obter alguma vantagem. São pessoas evasivas quando perguntadas sobre questões pessoais, como famílias, sonhos, sentimentos, porque geralmente não pensam sobre isso; porém, apresentam um ego exacerbado, gostam de se exibir, tentam se destacar no meio social como forma de obter uma ascendência sobre os demais, e exercer poder e controle. Não se ligando afetivamente a ninguém, são pessoas solitárias, embora possam ser, o centro das festas. Emocionalmente fracos, geralmente tem dificuldade em levar vidas normais, se submeter a rotinas, se estabelecer em empregos, se dedicar a tarefas intermediárias numa escala produtiva ou no staff de uma empresa, e isso leva a maioria a buscar alternativas ilícitas para obter o que querem: trambiques, furtos, extorções, chantagens, e até crimes mais violentos.

Porém, os psicopatas geralmente são inteligentes o suficiente para aprender os caminhos para se obter vantagem de outras pessoas: são conquistadores, sabem conversar, parecer agradáveis. Percebem rapidamente a fragilidade de alguém e oferecem o ombro amigo, no qual a pessoa deposita suas confidências, que o psicopata poderá usar em outra ocasião ("uma mão lava a outra", ou "você me deve essa" são motes típicos de quem oferece ajuda pensando no lucro que pode vir dessa relação, ou seja, o psicopata). Envolvem as pessoas e as mantém sempre por perto até que não precisem mais delas. Não farão nada por outra pessoa que não lhe seja proveitoso. E não se importam com a consequência dos seus atos, as quais, geralmente, eles já previram. São capazes de qualquer coisa. A dissimulação é a grande arte do psicopata: podem, se convir, chorar copiosamente diante de uma acusação para fazê-la parecer injusta, e, no momento seguinte, fazer um comentário debochado sobre outro assunto; podem explodir de raiva para intimidar e se colocar numa posição de controle num ambiente de trabalho, e em seguida amansar a voz para convencer um novo cliente de que está fazendo um grande negócio.

Psicopatas não são necessariamente violentos, e boa parte da violência não é cometida por psicopatas. Mas psicopatas sempre causarão danos a alguém, mesmo que isso nem lhes passe pela cabeça (a satisfação pessoal, no nível físico ou psíquico, é o que importa), e nunca se mostrarão arrependidos, exceto o arrependimento (a frustração, na verdade) de terem sido negligentes quando pegos pela justiça. Um psicopata violento, por outro lado, nunca deixará de praticar a violência, mesmo que a punição seja severa (o livro conta o caso de um assassino que, enquanto cumpria pena, matou mais de 40 detentos, porque isso lhe dava prazer... algo como o que ocorre com estupradores e pedófilos, e outros criminosos reincidentes sem qualquer relação aparente com a sua condição social).

A psicopatia pode se manifestar desde a infância, e não se sabe exatamente o que a causa: geralmente, quando as crianças já começam a tomar decisões próprias, podem apresentar alguns sintomas, como irritabilidade quando contrariadas, insensibilidade e violência repetida e cruel contra colegas e animais, mentiras compulsivas, dissimulação, não arrependimento pelos seus atos (um castigo pode ser recebido com uma promessa de vingança). E não existe meio conhecido de se reverter isso, de tornar uma criança psicopata em uma criança "normal", o mesmo ocorrendo com os adultos. Não existe "melhora", não se deve esperar que a pessoa mude, porque, para o psicopata, tudo está como deveria estar, e vocês (nós) é que precisam aprender a deixar de serem trouxas.

Enfim, muitas pessoas "normais" e "queridas", "acima de qualquer suspeita" são pessoas como essas. Provavelmente estão na sua vizinhança, no seu ambiente de trabalho, dentro do ônibus, esbarrando em você na rua (sem se desculpar), e até na sua família. Eu reconheci muitas pessoas enquanto lia o livro, entre conhecidos e famosos. É algo que dá medo, mas que, eu acho, já aprendi a neutralizar em alguns casos :^P

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