quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Chico Xavier de pobre.

Trabalhando sem parar há duas semanas (seja em casa, seja no Museu). Ainda assim, conseguiu um tempo para rever um conto que eu estava escrevendo e parei há alguns anos (na página 182... mais ou menos chegando à metade da história :^P). Fiquei feliz de reler o texto original e não me sentir constrangido, como geralmente acontece com coisas que eu escrevi, em outros momentos, e com outros estados de espírito, e propósitos específicos. Há passagens até que parece que nem fui eu que escrevi!

Eu sento para escrever quando as palavras extravasam de dentro de mim. Quando estou refletindo, como faço quando escrevo aqui, ou quando tenho que escrever uma redação dissertativa, faço com alguma naturalidade, registrando no papel (ou na tela) a sequência lógica e encadeada em que tento organizar minhas opiniões. Mas quando escrevo ficção ou poesia, a coisa é muito diferente. Não consigo escrever uma palavra sequer, se eu me vir obrigado a isso. "Escreva uma história aí sobre um cara que foi à praia e viu um velho cair da bicicleta". FAIL.

Quando escrevo esse tipo de coisa, algo especial está acontecendo. No caso da ficção, é como se eu estivesse mentalmente assistindo a um filme ou desenho animado, cujas ações se desenrolam em cenários, poses e tomadas que surgem quase independentemente, e o que eu procuro fazer é registrar o que eu "vejo" da melhor forma possível, aí sim, floreando e emendando trechos que não formavam uma sequência narrativa decente de acordo com a necessidade. Nessa parte "consciente" do escrever é onde entram as influências daquilo tudo que eu leio, do estilo dos romancistas aos temas dos filósofos e cientistas que eu estou sempre lendo, enriquecendo descrições, ações e diálogos. Mas a matriz de tudo é esse "filme" ou o que quer que seja, que parece nem vir de mim, como se eu apenas estivesse assistindo algo que estivesse sendo exibido para mim. Uma espécie de Chico Xavier de pobre, só que sem mortos.

Todo homem deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Como já plantei muitas árvores, e prevejo um filho para os próximos dois anos, escrever um livro parece a meta mais distante (publicações científicas em forma de capítulo de livro não contam :^P)

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