sexta-feira, 22 de outubro de 2010

1968: O ano que acabou em meia nove

Andar pelas ruas nos últimos dias tem sido um aborrecimento. Não apenas porque acho que estourou alguma veia no meu pé esquerdo, que doi como se eu tivesse levado umas pauladas, mas também porque tenho que testemunhar a degradante disputa eleitoral, por meio de bandeiras, cartazes, militantes espalhando mentiras sobre o candidato rival e o seu próprio, jornais de uma certa corporação e revistas de uma certa editora demonizando a candidata que lidera as pesquisas. Não é nada divertido.

No dia da eleição, no primeiro turno, por acaso uma Veja daquela semana caiu nas minhas mãos. Eu nunca leio a Veja. Na verdade, ela não merece nem que eu a use para limpar a minha bunda (além do papel ser daquele que espalha ao invés de absorver... enfim). Mas caiu na minha mão, e eu tive coragem de ler. A avaliação das propostas dos principais candidatos foi cômica. Em 10 quesitos, o candidato apoiado pela editora teve avaliação ótima na maioria, enquanto a candidata do governo (cuja caricatura apresentava as mãos sujas... de petróleo, eu suponho) estava quase tudo no vermelho. Algumas páginas depois, uma matéria inteira de como a candidata petista se vestia mal. Até isso usaram para tentar virar o jogo na última hora. Até que deu certo, pois veio então o segundo turno.

Essa semana, na terça, ouvi no rádio (CBN, a rádio que só toca o que o corpo editorial da Globo quer) que uma pesquisa do Vox Populi apontava uma diferença significativa entre os dois candidatos, com uma vantagem de cerca de 12 pontos da líder para o segundo. Na mesma chamada, sugestões de que o instituto de pesquisa é ligado ao PT, e que a pesquisa era falsa, e até entrevistaram uma vossa excelência do partido rival cumprindo o seu papel de "democrata" dando sua opinião a respeito. Ontem saiu a pesquisa do IBOPE, encomendada pelos ilustres proprietários da mansão do Cosme Velho, apontando para a mesma tendência. FAIL.

Essa semana, o candidato do partido de São Paulo foi até um bairro lá perto de casa, e foi hospitalizado após ser atingido por uma bolinha de papel na careca. Hoje, o jornalão da emissora do Jardim Botânico tem duas matérias na capa: uma mostrando como, além de uma bolinha de papel, ele também foi atingido por um objeto tão duro e pesado quanto uma banana (um rolo de fita crepe, sei lá), e que por isso o comentário do presidente (tem que sobrar pra ele) foi desrespeitoso ou algo assim; a outra é sobre algum escândalo com um tesoureiro petista.

Mas quem é Paulo Preto? O Serra não conhece, mas sabe que é um homem honesto, então pra que falar nisso? Vamos falar da Erenice que é melhor.

Eu nem culpo a grande imprensa de criar os maiores escândalos da história do país toda semana, afinal, eles precisam chamar a atenção para vender seu produto (o jornalista honesto, hoje em dia, ou está em jornais de pequena circulação, ou está lotado em alguma revista de decoração de interiores). A Veja fazia o mesmo na época da Ditadura (O Globo não :^P), na época do Sarney, do Collor (que a revista, antes das eleições de 1989, qualificava como uma espécie de super herói alagoano), do FHC, e tem se deliciado com o Lula, que, segundo alguns dos seus articulistas, mesmo depois de 8 anos, ainda está tentando implementar uma ditadura comunista no Brasil. É o revolucionário comunista mais incompetente da história, então.

Me pergunto se era essa democracia que os que deram o sangue, seu e dos seus familiares (alguns até hoje desaparecidos) na luta contra a ditadura militar esperavam. Se for, era preferível que os milicos tivessem passado os tanques por cima deles logo. Porque o que está aí só me envergonha.

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