sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Página em branco

Sexta feira, 10:10 da manhã. Como de costume numa repartição pública neste dia da semana, estou aqui sozinho, olhando para a "folha" em branco da caixa de texto da página de atualização do Blogger, pensando em algo que valha a pena escrever (afinal, isso aqui se chama Preto no Branco por algum motivo, e não é por causa de pornografia interracial :^P), enquanto descanso a mente da monotonia do banco de dados do Herbário, e tenho à esquerda uma exsicata de Bauhinia allemaniana aberta, coletada em meados do século XIX no Ceará, testemunha de que eu não estava à toa, pelo menos até agora.

Uma folha em branco é uma história que ainda não foi contada, uma ilustração que ainda não foi desenhada, cores que ainda não foram pintadas, ideias que ainda não foram discutidas. A folha em branco não é um vazio, mas sim um potencial, uma vacuidade que precisa ser preenchida para atingir o único objetivo para a qual foi feita. Em inglês, uma página em branco é uma "blank page", e "blank" é usado também como sinônimo de "vago", "vazio", como algo cuja existência é dispensável, desprezível, porque não possui conteúdo. Nem tudo que possui conteúdo é aproveitável, dentro do conceito de "utilidade" de cada um.

Lao Tse diz que para chegar à sabedoria da compreensão do Tao, é preciso que se abandone o apego ao conhecimento erudito, e que a pessoa seja como um vazio pronto para ser preenchido. Jesus usa outra abordagem para dizer a mesma coisa: o Reino de Deus pertence às crianças, cuja inocência não foi maculada pela perversidade do pensamento humano e de suas relações sociais; as crianças são como vacuidades, ou páginas em branco, prontas para serem preenchidas. O próprio nome "Lao Tse" significa "criança velha", pois seu espírito era como o de uma criança, mesmo no final da vida.

Um dia eu acreditei que sabedoria viria com conhecimento. Mas o apego ao conhecimento, à instrução formal, aos maneirismos talvez não passem de meras ferramentas para sobreviver à realidade material e proporcionar praticidade às relações humanas. Portanto, não são dispensáveis. Mas para chegar a ser um sábio, que possa caminhar com firmeza em seu próprio caminho com correção (porque mesmo um passo errado é um ensinamento que o sábio consegue apreender) e sem sofrimento (porque, embora não esteja apartado da dor, é possível escolher entre sofrer com ela ou não), é preciso desaprender muitas coisas que nos enrigessem, porque parecem absurdas, impossíveis ou impraticáveis à luz do racionalismo, mas ainda assim são necessárias para a compreensão maior de si, do outro, e de tudo que nos rodeia. É o "conhecimento do coração" do sábio chinês.

Tomara que Paul Rabbit não plageie mais essa :^P

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