sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

De como tornar o meu aniversário moralmente mais aceitável

Hoje é meu aniversário. Antes que você corra para os comentários para me desejar parabéns (hah, como se muita gente comentasse o meu blog), você precisa saber de uma coisa ou duas: eu não gosto de aniversários. Não é algo que nasceu comigo: quando criança, ficava ansioso pela data, quando eu teria um tratamento especial, seria o centro das atenções, o dono da festa; e depois de crescido, a usava para estar com amigos, já sem aquele egoísmo infantil. Com o tempo, fui me tornando indiferente em relação a isso. Comecei a pensar do porquê de eu estar celebrando a data do meu nascimento. Não que eu ache que não seja importante. Mas de acordo com o costume, receber presentes e congratulações, em um certo ponto, ficou sem sentido. Por que eu devo ser parabenizado ou presenteado por ter nascido, se não é mérito meu? Atualmente, acho isso tudo um ritual constrangedor. Não pensem os que sempre comemoraram comigo e me presentearam (família!) que sempre foi assim e que estou sendo ingrato e demagogo! Não se chateiem, eu sempre curti tudo. É apenas algo que veio se transformando até chegar a este estado de coisas.

O trabalho (e a viagem diária que ele exige de mim, cujo tempo gasto talvez só não deixe os paulistanos totalmente estupefatos) consome quase todo o meu tempo. Tenho preocupações além da esfera pessoal, como me preparar para procurar um novo lugar para morar nos próximos meses e pensar na logística toda. Esta semana ainda foi a semana de pagamento de contas. É a penúltima semana de trabalho antes do recesso obrigatório de fim de ano (quando o Herbário é desinsetizado e ninguém pode ficar perto dele por duas semanas), então com todo o cansaço mental acumulado, não tive tempo nem ânimo para refletir sobre aniversários.

Esta semana a moça que faz a limpeza do nosso setor veio nos pedir para doarmos o que pudéssemos para a família de um funcionário do Jardim Botânico, que perdeu tudo na penúltima chuva forte que caiu sobre o Rio, semana passada. Então ontem separei camisetas, cuecas, e um moleton (calças não, pq elas me faltam, e as que eu uso em casa estão tão rasgadas que eu teria vergonha de dá-las a um mendigo), limpinhas e em um estado digno, e trouxe. Minha esposa também fez um brownie de nozes que ficou ótimo, para eu dividir com meus colegas. Então vim para o trabalho com isso na mão.

Então eu comecei a refletir. Esta data relembra o dia em que eu cheguei aqui. É algo digno de ser celebrado, sim. Estou aqui com saúde, inteligência, esforço recompensado. Me incomoda receber presentes e parabéns, porque não vejo como eu os mereço, porque já recebi muitas coisas - e é justamente o que legitima a celebração. Uma maneira de tornar a data do aniversário moralmente aceitável, para mim, hoje, é se nós dedicássemos este dia a devolvermos ao mundo e às pessoas uma parte simbólica do que recebemos deles ao longo da vida. Então estou aqui, na surdina, sem ter avisado a ninguém sobre aniversário (esperando evitar uma festinha... nem vou compartilhar esse post no Facebook :P), com roupas que eu não uso para algum desconhecido que precisa, e doces para dividir com meus colegas e amigos, e isso está me fazendo muito bem, e me fazendo aceitar o meu aniversário com muito mais facilidade.
 
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